Evento também marcou o lançamento de edital para estimular participação da juventude no Fórum Paraense de Mudanças e Adaptações Climáticas
Mais protagonismo da juventude nas decisões políticas e criação de incentivos para uma bioeconomia inclusiva e sustentável foram as principais pautas do debate “Planos de Sociobioeconomia na Amazônia Legal”, realizado no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, localizado em Belém (PA), no último sábado, 5 de agosto, como parte dos Diálogos Amazônicos, iniciativa que fez parte da pré-Cúpula da Amazônia.
O evento foi promovido pela Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (COJOVEM) e a Conferência Nacional das Favelas e o Movimento Tapajós Vivo (MTV), com apoio do Hub de Bioeconomia Amazônica, que é vinculado à Coalizão pela Economia Verde (Green Economy Coalition, em inglês) e tem secretaria executiva da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). O debate na íntegra está disponível no Instagram: @cojovem.br.
O evento reuniu as lideranças jovens Noranathan da Costa Guimarães e Alice de Matos Soares, educomunicadoras e militantes no Movimento Tapajós Vivo (MTV); Natália Moraes, diretora da Coordenação de Povos e Comunidades Tradicionais na Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (COJOVEM); e Rayandra Araújo, assistente de Políticas Públicas e Cooperação Internacional na FAS.
As principais pautas do debate foram os avanços, desafios e oportunidades para o protagonismo das juventudes dentro dos processos de tomada de decisão e formulação de políticas públicas, como também na construção de mecanismos de incentivo produtivo que fomentam uma sociobioeconomia inclusiva nestes estados, considerando as demandas apontadas pelas juventudes.
“Para nós do Hub é fundamental a participação e a escuta das juventudes dentro dos espaços de decisão e de formulação política que pautam o futuro da bioeconomia amazônica. Fomentar e incentivar a criação destes espaços conectam-se diretamente a nossa estratégia de incidência política e advocacy para o avanço da agenda de uma bioeconomia inclusiva na região. Não haverá futuro sem uma juventude fortalecida no presente.”, enfatiza Marysol Goes, facilitadora do Hub de Bioeconomia Amazônica.
Discussões
A mediação do debate foi realizada por Noranathan da Costa Guimarães, que destacou o poder da juventude nas mídias digitais, influenciando e conquistando seu lugar de fala.
“Devemos utilizar este instrumento tecnológico para dar voz à Amazônia, para fazer articulações e se fortalecer dentro da Amazônia. Estamos aqui, sempre estivemos aqui e vamos continuar lutando para manter a Amazônia de pé”, destacou.
O debate teve início com a arqueóloga e educomunicadora, Alice de Matos. A ativista abordou sobre projetos que atuam com energia solar, de caráter renovável e sustentável, para substituir a instalação de usinas hidrelétricas que prejudicam comunidades e o ecossistema na Amazônia. Alice também propôs a educação ativista como meio de capacitação para dar voz às pessoas do território paraense.
A segunda a debater foi Rayandra Araújo, representando o Amazonas. De início, lembrou que quando era criança, cresceu escutando que não deveria parecer como uma “pessoa do interior do estado”. Após iniciar sua jornada no ativismo, se diz feliz ao ver a juventude carregar suas ancestralidades amazônidas.
Rayandra destacou que a juventude traz uma outra percepção da Amazônia e que, mesmo com o crescimento contínuo, ainda faltam representantes nos espaços políticos de decisão. Para ela, a juventude é o poder da base social e precisa fazer pressão para que as mudanças aconteçam.
Em seguida, foi a vez de Natália Moraes que falou sobre a COJOVEM, onde atua na coordenação de povos e comunidades tradicionais, incluindo jovens indígenas, quilombolas e extrativistas.
Para ela, um dos principais desafios é estar nos espaços e fazer as formações sem a infraestrutura necessária, como a falta de conexão via internet. “Dessa forma, as formações precisam ser presenciais e a COJOVEM aceitou o desafio de levar lições sobre empreendedorismo aos territórios paraenses”, compartilhou.
Outros desafios são a logística entre território, as diferenças entre as línguas dos moradores e até impedimentos sociais para que mulheres não pudessem sair para estudar na cidade. Por meio do diálogo, Natália conseguiu mostrar às lideranças a importância da continuidade das tradições do povo, incluindo uma turma que reunisse mulheres.
Além disso, os projetos precisaram inserir a visão cosmológica dos povos da região, algo compreendido somente por quem vivencia aquela cultura e que fortalece a sustentabilidade social. Mesmo com os avanços, ela aponta que surge discursos capitalistas colonizadores que se disfarçam de progresso para prejudicar os povos da floresta.
“Dizem que os movimentos indígenas e quilombolas são contra o desenvolvimento, mas a verdade é que não são contra. Na verdade, eles são contra o desenvolvimento que mata os povos, polui o rio, contaminam suas águas. O mercado de carbono deveria ser uma das maiores soluções, mas existem muitas más intenções. Empresas que se aproveitam do desconhecimento sobre o tema e se aproximam das comunidades para explorar os povos, com cláusulas exploratórias. Isso também mostra o descaso das autoridades em não levar a informação para as comunidades”, destaca. A fala de Natália também aponta para a necessidade de regulamentação e fiscalização das irregularidades contra a floresta amazônica.
Fórum Paraense de Mudanças e Adaptação Climática
Além das contribuições, o evento marcou o lançamento do edital de chamamento público para instituições interessadas em compor a Câmara Técnica de Juventudes, do Fórum Paraense de Mudanças e Adaptação Climática (FPMAC).
A ideia é estimular a participação da juventude, ONGs e outros membros da sociedade civil nos locais públicos de tomadas de decisões. As inscrições seguem abertas até o dia 8 de setembro e o edital está disponível no site da Semas.
Sobre o Hub de Bioeconomia Amazônica
O Hub de Bioeconomia Amazônica é uma rede local, regional e global que conecta e articula organizações e lideranças para amplificar soluções para uma bioeconomia inclusiva na Amazônia. É secretariada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e vinculada à Green Economy Coalition (GEC), uma das maiores alianças globais de organizações multissetoriais engajadas na promoção de uma economia verde e justa no mundo. Acesse https://bioeconomiaamazonia.org/ e saiba mais.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio de programas e projetos nas áreas de educação e cidadania, saúde, empoderamento, pesquisa e inovação, conservação ambiental, infraestrutura comunitária, empreendedorismo e geração de renda. A FAS tem como missão contribuir para a conservação do bioma pela valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade e pela melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia. Em 2023, a instituição completa 15 anos de atuação com números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas entre 2008 e 2021.
Créditos das fotografias: Alex Ribeiro – Agência Pará