Representando o Hub de Bioeconomia Amazônica, a superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Valcleia Solidade, apresentou caminhos para uma economia verde como instrumento de empoderamento de populações tradicionais, ribeirinhas, quilombolas e indígenas, durante o I Fórum Latino-Americano de Economia Verde.
O evento foi realizado em São Paulo, no mês de outubro, para debater uma série de temas relacionados aos desafios da crise climática. Foi promovido pela Agência EFE, serviço de notícias internacional criado em 1939 em Espanha.
Valcleia mostrou alguns desafios de como implementar projetos econômicos, sociais e ambientais na Amazônia. Entre eles, a falta de energia e dificuldade com logística e conectividade.
“É importante falar sobre isso, porque a gente sabe que energia é essencial. Se não a gente não desenvolve, se não a gente não consegue produzir, não consegue armazenar e não consegue desenvolver o território. A logística é bem complexa. Para você ter ideia, para ir a última comunidade onde a FAS atua são necessárias 50 horas de barco para chegar lá. E eu estou falando de um município dentro do estado do Amazonas. Então, a logística é um grande desafio, porque os lugares são distantes e tudo se torna muito caro. A conectividade é fundamental, porque se a gente quer, de fato, desenvolver os territórios, gerar economia, é preciso conectar com as pessoas fora do ambiente”.
Durante sua palestra, ela abordou sobre a atuação da FAS, organização do terceiro setor que tem uma capacidade grande de fortalecer as comunidades e que trabalha com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), como premissa da educação para sustentabilidade, pensando na questão da bioeconomia da Amazônia.
Outra questão apontada por Valcleia é a falta de infraestrutura. “Na Amazônia, a água é essencial. Agora com a grande seca, as famílias estão isoladas e a principal demanda é água potável. Então, ou você faz investimentos em estruturas que vão gerar resultado e vão contribuir para a economia verde ou, então, de fato, a gente não tem como fazer, porque essas pessoas permanecem no ambiente onde elas nasceram e estão acostumadas”, conta.
A superintendente indicou ainda a importância do monitoramento ambiental. “É importante trabalhar essa temática nas comunidades. E aí a gente traz dois exemplos de economia verde. Quando a gente investe no território faz com que essas atividades façam com que as pessoas que estão naquele ambiente permaneçam nele. Eu trouxe o exemplo do pirarucu, cadeia produtiva, onde a gente tem muitos desafios: gestão do projeto, gestão do negócio, gestão do mercado. Então, investimos em infraestrutura, construímos uma salgadeira na comunidade, instalamos câmara frigorífica, que armazena e beneficia o pirarucu. Dessa forma, você agrega valor ao produto. Agregando valor ao produto, você também monta uma estratégia de mercado. Foi aí que criamos a Feira do Pirarucu para vender o peixe em Manaus. Também criamos o PiraruClub, uma inovação, que é um clube de assinatura de hotéis para pagar um valor melhor ao produto, porque ele vem de área manejada e ele tem um valor ambiental muito forte”, disse.
Segundo ela, o outro é o turismo de base comunitária. “É importante investir nas pessoas, fazer formação, formar o capital humano. A gente, ao fazer tudo isso, consegue gerar impacto. Temos projetos importantes que conseguem substituir a exploração da madeira para fortalecer o turismo, garantindo a redução do desmatamento nessas comunidades. Mas por quê? Porque a gente deu oportunidade para que aquelas pessoas nos territórios possamse desenvolver daquilo que tem ali e não destruir a floresta”.
Além de Valcleia Solidade, o painel “Economia verde, fonte de empoderamento econômico para comunidades” também reuniu Clarissa Alves Furtado, Gerente de Competitividade da ApexBrasil; Marina Negrisoli, Diretora de Sustentabilidade da Suzano; e Daniela Chiaretti, repórter especial de Ambiente do Valor Econômico.