Jovens ribeirinhos do Amazonas debatem juventude e futuro da região em encontro em Manaus
20/05/2019
Direitos e proteção da criança e do adolescente, conservação ambiental e empoderamento jovem foram temas durante semana de atividades do 2º do Encontro de Jovens Líderes, promovido pela FAS.
Jovens ribeirinhos do Amazonas com idades de 13 a 17 anos, oriundos de diversos municípios e que são lideranças jovens em suas regiões, estiveram em Manaus na última semana durante o 2º Encontro de Jovens Líderes, um evento promovido pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) com objetivo de reunir a juventude amazônica para debater o futuro e as problemáticas da região. Direitos e proteção da criança e do adolescente, conservação ambiental, afetividade e sexualidade, autoestima e vocação jovem foram temas debatidos.
Com longa programação de oficinas a rodas de conversa, debates, filmes e passeios culturais, o 2º Encontro de Jovens Líderes reuniu 39 adolescentes, meninos e meninas, de diversos municípios: Manaus, Iranduba, Itapiranga, Novo Aripuanã, Tefé, Maraã, Uarini, Eirunepé e Carauari, oriundos das Unidades de Conservação RDS Rio Negro, RDS Puranga Conquista, RDS Uatumã, RDS Juma, RDS do Rio Madeira, RDS Anamã, RDS Mamirauá, RDS do Uacari, Resex Rio Gregório e Resex Catuá-Ipixuna.
O evento é promovido pelo Programa de Desenvolvimento Integral de Crianças e Adolescentes Ribeirinhas na Amazônia (Dicara), que já atua nas UCs do Estado com cooperação estratégica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). “O encontro de jovens está baseado no trabalho que a gente vem fazendo nas comunidades, em três vertentes: educação, saúde e assistência social. É o nosso principal eixo, apresentar para os meninos e meninas caminhos que possam enxergar na vida que não seja o das drogas, do alcoolismo e do abuso sexual”, explicou Ademar Cruz, coordenador do Dicara.
Segundo Ademar, os jovens ribeirinhos já participam das atividades do Dicara nos municípios, mas em Manaus puderam adquirir novos conhecimentos e aprendizados e passaram a entender o mundo da cidade levando em conta a realidade de suas comunidades. “Eles fizeram visitas e puderam enxergar a vida urbana na grande cidade, comparando com a vida que têm nas comunidades”, ressaltou. “O mais legal é que mais da metade deles nunca tinha vindo a Manaus. Então o encontro por si só trouxe essa oportunidade, eles puderam se conhecer e aumentar suas regiões de contato”.
Debora Pinheiro Nunes, de 16 anos, da comunidade Lago Grande, na Reserva Extrativista (Resex) Rio Gregório, em Eirunepé, foi uma das participantes do Encontro de Jovens Líderes. “Eu cheguei bem tímida, mas aí comecei a fazer amizades, conversar, e perdi a timidez. Fiz amizade com todo mundo e foi bem legal porque trocamos experiências. Deu para ver que apesar de vivermos outras realidades, o que gente quer é a mesma coisa, o mesmo objetivo, um futuro melhor para todos da região amazônica e para a natureza”, disse.
Enfrentamento à Violência Sexual
Um dos momentos mais importantes do encontro foi a participação dos jovens no Seminário de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente, promovido pelo Governo do Amazonas através da Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas). “Nós conseguimos encaixar a participação deles nesse seminário e eles puderam ter acesso a dados como, por exemplo, o registro de 4 mil denúncias de abusos sexuais contra crianças no Amazonas só em 2018. Esperamos que eles levam para os municípios deles, para os jovens que ficaram nas comunidades, o conhecimento adquirido aqui”, lembrou Ademar Cruz.
Ruanderson Martins Cabral, de 17 anos, da comunidade Santa Maria do Uruá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Madeira, em Novo Aripuanã, participou do seminário e disse que pretende fazer palestras para pais e outros jovens sobre o conteúdo de violência sexual. “Cerca de 70% dos casos de violência sexual infantil acontecem dentro das próprias famílias das vítimas. São avós, tios, pais. Então eu e outros colegas estamos organizando palestras para levar esse conhecimento e alertar os pais e outras crianças”, disse.
Segundo Ademar Cruz, a participação dos jovens no encontro demonstra o resultado positivo das ações promovidas pelo Dicara nos municípios. “A gente olha para o final do encontro e enxerga que o que a gente tem feito tem surtido efeito. As crianças falaram em projetos, falaram que querem voltar para suas comunidades e aplicar as ideias desenvolvidas aqui, transformar em projetos como melhoria do aterro sanitário da comunidade, formas de enfrentamento a violência sexual infantil, recuperação de áreas degradadas. Dá para perceber que tem uma sementinha plantada”.
Empoderamento
Também no encontro os jovens ribeirinhos puderam aprender fundamentos de liderança e gestão e como elaborar e construir projetos. “Estamos preparando esses jovens para assumir, futuramente, as associações de moradores de suas comunidades, para ter mais qualidade na gestão dessas associações. Eles estão começando cedo a entender o que é uma organização, o papel de uma liderança e o papel deles enquanto jovens. Inclusive muitos já demonstraram que na próxima eleição já vão se candidatar às associações”, ressaltou Ademar Cruz.
Ao final, os jovens produziram uma carta com demandas de prioridades e desejos para a juventude e a região amazônica. Tal documento deverá ser entregue aos líderes adultos das comunidades e diretores de associações. “Eles colocaram os sonhos deles num papel, deixaram uma carta para ser discutida no encontro de lideranças, dos adultos, que vão ter a tarefa de pegar os desejos deles e apresentarem numa pauta de ações”, finalizou Ademar Cruz.
Programa Dicara
O segundo Encontro de Jovens Líderes foi promovido por meio do Programa de Desenvolvimento Integral de Crianças e Adolescentes Ribeirinhas na Amazônia (Dicara), que tem por objetivo desenvolver ações voltadas à garantia dos direitos de crianças e adolescentes de Unidades de Conservação (UC) no Amazonas, com foco no enfrentamento à vulnerabilidade social, evasão escolar, menor acesso à educação de qualidade, exclusão digital e cultural, violência doméstica, exploração sexual e do trabalho infantil.
O Dicara recebe apoio do Banco Bradesco, Unilever, EMS, Lojas Americanas, Ball, Ticket Log, BIC e Repom, que investem parte do Imposto de Renda devido nos Fundos Municipais da Criança e do Adolescente (FUMCAD) de cada município. A ação conta também com apoio da Samsung.