Lideranças femininas debatem como mulheres amazônicas são mais impactadas com as mudanças climáticas
09/09/2024
Dados da ONU Mulheres apontam que 80% das pessoas deslocadas por desastres naturais e mudanças do clima são mulheres. O tema ganhou destaque durante o webinar “Como as mudanças climáticas impactam a vida das mulheres da Amazônia”, realizado em homenagem ao Dia da Amazônia, celebrado nesta quinta-feira, dia 5 de setembro.
O webinar foi organizado e transmitido pelo canal da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), no YouTube, e já tem mais de 3,6 mil visualizações. Os debates foram realizados entre Valcléia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS; Thais Kokama, artista e compositora indígena; e Izolena Garrido, artesã, educadora e vice-presidente do Conselho de Administração da FAS. Já a mediação ficou sob comando da influenciadora digital e dançarina, Isabelle Nogueira.
Valcleia Solidade ecoou a dor de quem vive em comunidades distantes da Amazônia, sem acesso a serviços essenciais como água potável e energia, e que são as pessoas mais impactadas com todas as mudanças que o planeta vem sofrendo. Principalmente, as mulheres que executam ações importantes e prioritárias dentro das comunidades. Ela destacou ainda a importância de trazer mais investimentos, soluções e oportunidades para que o bioma amazônico seja protegido.
“As empresas precisam ter um olhar socioambiental, porque sem o bioma não teremos nada na Terra. É importante ter esse olhar. É caro investir em projetos na Amazônia. Porém, é um investimento que vai salvar vidas. Esses investimentos precisam ser feitos em diversas áreas, como em energia. Na Amazônia, milhares de pessoas vivem sem energia elétrica. Das 582 comunidades onde a FAS atua, mais de 300 não têm energia o dia todo. Como que a gente quer uma nova economia, se de fato a gente não consegue levar dignidade para o território. Tem muita gente que vive no século passado, porque não tem energia”, comenta Solidade.
Segundo ela, os gestores públicos precisam olhar com mais atenção para as comunidades isoladas. Porque, existem diversas soluções, que as instituições de meio ambiente executam nas comunidades, mas que precisam cada vez mais de recursos para que sejam ampliadas e beneficiem mais pessoas. Ela citou os projetos que a FAS promove, com o apoio de empresas parceiras, como a UCB Power, que implanta sistemas de energia limpa e renovável em comunidades.
Isabelle Nogueira também reforçou a importância de novos projetos e de investimentos em prol das pessoas que vivem na Amazônia. Já Izolena Garrido falou um pouco do seu dia a dia na Comunidade Tumbira, situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, onde reside.
“As políticas públicas chegam em nossa região da RDS Rio Negro, mas chegam refasada. Além disso, as mudanças climáticas impactam demais quem mora nas florestas e rios. Pois, tudo está diferente. As mulheres são as que mais sofrem e enfrentam uma série de violência”, revela.
A artista indígena Thaís Kokama abordou sobre a importância das mulheres em sua comunidade. De acordo com ela, as vozes femininas possuem lugar de destaque e precisam sempre saber as necessidades da comunidade. “Porém, precisamos lutar para incluir cada vez mais pessoas nesse espaço. Só eu sei o que passo como mulher indígena e como estamos lutando para fortalecer ainda mais as mulheres”, disse Kokama, mundialmente conhecida pelo grafismo corporal que faz e representa tradições, e saberes dos povos originários.
Debater como a urgência climática vem impactando as mulheres, principalmente na região amazônica, também será tema do Grupo de Trabalho (GT) de Empoderamento de Mulheres, durante o G20 que ocorrerá em novembro, no Rio de Janeiro, reunindo lideranças de diversos países. O G20 é um fórum de cooperação econômica internacional, que tem como objetivo debater temas para o fortalecimento da economia internacional e desenvolvimento socioeconômico global.
A dificuldade das mulheres ocuparem cada vez mais espaços de destaque, em diversas áreas, também foi abordado durante o webinar. “É impressionante como ainda existe muito preconceito contra o nortista. Principalmente, contra as mulheres. É como se a gente fizesse parte de outro país”, contou Isabelle.
“Comecei a trabalhar muito cedo, fui uma jovem muito precoce. Pois, não tivemos as oportunidades que os jovens de hoje têm. Além disso, antes, as mulheres não tinham espaço. Mas, quebrei esses paradigmas. Não foi fácil. Precisamos uns dos outros. Exercer esse empoderamento das mulheres, com educação, fortalecimento e valorização dos saberes é extremamente importante, e urgente. Temos que ouvir mais nossos anciãos, rever o que aconteceu no passado e mostrar o futuro para ressignificar o que temos hoje”, declara Izolena Garrido, que é socioeducadora e uma grande liderança feminina.
A arte desenvolvida por Thaís Kokama, com grafismos indígenas pintados no corpo, também representa uma forma de empoderamento dos povos originários, principalmente das mulheres. Ela falou de algumas mulheres de sua aldeia que são lideranças femininas e executam papel de grande importância dentro e fora do território.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.
Créditos de imagem: Divulgação/FAS