Avanço da Covid-19 no Amazonas impacta turismo de base comunitária e instituições apresentam soluções para retomada econômica
15/06/2020
Para propor estratégias que amenizem a crise, a Fundação Amazonas Sustentável promoveu um seminário virtual
Com cinco horas de realização e a participação de mais de 100 pessoas de diversas partes do Brasil e até da Europa, o webinar “Turismo Comunitário na Amazônia em Tempos de Covid-19”, promovido nesta quarta-feira, dia 10, apresentou soluções para a retomada do setor após a pandemia do coronavírus.
“O início do ano foi muito bom. Estávamos otimistas porque já tínhamos muitas reservas até junho. Recebemos turistas em janeiro e fevereiro mas, aí chegou março e tudo desmoronou. Essa é a pior crise que eu já tive como empreendedor e também como morador ribeirinho”, contou o proprietário da Pousada do Garrido, Roberto Brito, que fica na comunidade Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro (a 80 quilômetros de Manaus). Segundo o proprietário, o prejuízo ultrapassa R$ 63 mil.
Outra atividade impactada é a pesca esportiva no Amazonas. No município de Itapiranga, moradores da RDS do Uatumã, a 227 quilômetros de Manaus, estimam prejuízos significativos. Somente a pousada El-Shaddai contava com 90 pacotes para a temporada de 2020, mas todos foram cancelados, totalizando uma perda de faturamento estimada em R$ 405 mil.
O webinar foi realizado pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), em parceria com o Fórum de Turismo de Base Comunitária, para propor soluções com o objetivo de ajudar empreendedores, colaboradores e profissionais autônomos da cadeia do turismo no Amazonas, amenizando os impactos com a crise gerada pela pandemia.
A presidente da Amazonastur, Roselene Medeiros, prevê um retorno das atividades de turismo no Amazonas entre agosto e setembro, e informou que o Governo do Estado está realizando uma série de ações relacionadas ao assunto. Segundo ela, as atividades estão direcionadas para o reposicionamento do turismo amazonense em nível nacional e internacional, com a consultoria de especialistas e muitas ações digitais.
“Vamos contratar uma empresa de renome para a criação do Plano Estadual de Turismo, junto com o apoio de lideranças locais e instituições envolvidas com o setor. Também vamos viabilizar recursos do Governo Federal com o objetivo de melhorar a infraestrutura para receber o turista com mais conforto. Além disso, estabeleceremos um protocolo de segurança e prevenção, orientando a todos, principalmente as Unidades de Conservação e comunidades indígenas. O protocolo foi criado após pesquisas nacionais e internacionais feitas pela Amazonastur, que servirão para orientar os empresários e prestadores de serviço”, disse Medeiros.
Ações da FAS
Já a superintendente de Desenvolvimento Sustentável da FAS, Valcléia Solidade, relatou algumas ações da instituição para enfrentar o cenário atual como a criação da “Aliança dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais e Organizações Parceiras do Amazonas para o Enfrentamento do Coronavírus”, com o apoio de 73 instituições, que tem promovido diversas doações e atividades no interior do Estado e em alguns bairros carentes de Manaus.
“Estamos pensando em uma estratégia para reverter esse cenário de crise, levando em consideração todos os protocolos de segurança, melhorando a tecnologia de algumas localidades e viabilizando recursos. Também garantimos em algumas comunidades o acesso aos programas econômicos dos governos estadual e federal. Acreditamos que esse momento traz uma reflexão para que possamos pensar em ações estruturantes e menos burocráticas para atender o empreendedor lá na ponta, nessas comunidades, e toda a cadeia do turismo, como também quem produz artesanato e outros produtos da floresta”, disse.
Linhas de Créditos
Entre as soluções econômicas apresentadas no webinar, foi destaque a linha de crédito da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), que pode ser solicitada de forma digital com recurso de até R$ 21 mil para empreendedores cadastrados na Amazonastur e até R$ 1 milhão para grandes empresas do setor de turismo. “Essa linha de crédito teve redução de taxa de juros e o pagamento prolongado até 2021. Temos recursos e estamos disponibilizando tudo de forma digital para facilitar o acesso”, afirmou o representante da Afeam, Kirk Douglas.
Já o representante do Bradesco, Ivson Barsand, enfatizou o acesso à microcrédito de até R$ 20 mil, realizado de forma rápida, com taxas baixas, através da plataforma digital do banco. “Também estamos criando gratuitamente sites para ajudar os microempreendedores a venderem seus produtos”, afirmou.
O coordenador de empreendedorismo da FAS, Wildney Mourão, disse que o turismo precisa de ajuda para a retomar as atividades após a pandemia. “Não temos muitas certezas sobre o cenário atual, mas temos muitas ideias para retomar o turismo de forma forte, estruturado e ainda mais organizado”, comentou. Ele também informou que a FAS pode fazer o levantamento dos profissionais e empresas que atuam no setor de turismo, nas Unidades de Conservação e comunidades do interior do Amazonas, para terem acesso às linhas de crédito da AFEAM e Bradesco.
O webinar teve a participação das principais instituições envolvidas no assunto como Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), Universidade do Estado do Amazona (UEA), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A (Afeam), Bradesco, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Associação Zagaia Amazônia, Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA), além dos empreendimentos Manati Lodge e Pousada do Garrido, localizados no interior do Estado.
Laboratório de Turismo Comunitário
Como resposta à crise econômica, também foi criado o ‘Laboratório de Turismo Comunitário da Amazônia’ que vai avaliar os impactos socioeconômicos causados pela pandemia nas atividades turísticas e será uma forma de apoiar comunidades ribeirinhas, e indígenas do Amazonas.
As ações do laboratório contam com a construção de uma rede colaborativa para discussões sobre o Turismo Comunitário na Amazônia (Governo, empresas, academia, empreendedores ribeirinhos e ONGs), com uma campanha para o não cancelamento de serviços turísticos na Amazônia, mas sim mudança de data para o pós crise. Além disso, terá a criação de uma plataforma digital de Turismo na Amazônia com dados sobre as atividades turísticas de base comunitária e de pesca esportiva.