Capacitação remota orienta agentes comunitários de saúde sobre usos de tecnologias de mídia e aparelhos médicos
Teleorientação promovida pela FAS, por meio do projeto SUS na Floresta, ocorreu via Google Meet e reuniu agentes comunitários de Unidades de Conservação (UCs) do Amazonas.
13/10/2020
No interior do Amazonas, os agentes comunitários de saúde (ACS) são considerados elos indispensáveis para a manutenção da saúde e do bem-estar das comunidades ribeirinhas. Sabendo da importância desses atores e dos desafios enfrentados na atenção básica à saúde, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) promoveu, no dia 23 de setembro, uma “teleorientação”, com quatro ACS das Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma e Mamirauá, no Amazonas. O objetivo foi orientar sobre os usos devidos de aparelhos médicos, bem como a instalação de plataformas remotas, a fim de melhorar o chamado teleatendimento, que evita o deslocamento de médicos e pacientes.
A ação foi organizada no âmbito do projeto SUS na Floresta para complementar e propor ajustes ao Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de uma parceria com o programa “Todos Pela Saúde”, iniciativa criada pelo Itaú Unibanco para apoiar o combate ao novo coronavírus e seus efeitos. A proposta mais específica do SUS na Floresta visa aprimorar os sistemas de atenção básica de saúde nas comunidades tradicionais e aldeias indígenas.
A primeira parte da reunião foi direcionada à instalação do sistema IPTV – tecnologia de transmissão de mídia – nos computadores dos agentes comunitários. A orientação sobre o processo foi efetuada pelo técnico Jerildo Pontes e pela gerente de projeto, professora Waldeyde Magalhães, ambos representantes do Núcleo Telessaúde Estadual do Amazonas, órgão vinculado à Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Por meio do IPTV, os ACS podem acessar diretamente todas as informações disponibilizadas por médicos e outros profissionais da saúde da UEA, facilitando o teleatendimento.
O assunto da covid-19 também esteve em voga. Em um segundo momento, o consultor em saúde da FAS, Rodrigo Pereira, tirou dúvidas e explicou sobre as melhores formas de utilizar os aparelhos básicos de triagem doados às comunidades, por meio do projeto “Aliança Covid-Amazonas” – iniciativa criada pela FAS em conjunto com aproximadamente 100 parceiros -, como oxímetro, termômetro digital e medidor de pressão e de glicose. De acordo com Rodrigo, a intenção também era desmistificar informações erradas que recebiam sobre os usos dos aparelhos, principalmente em relação ao termômetro infravermelho – a famosa “pistola”, que já virou até motivo de memes e notícias falsas.
“É muito comum vermos esse termômetro sendo utilizado de forma errada. Tem gente que mede no pulso ou no braço, mas para o valor ficar realmente preciso, é preciso apontá-lo para a área da testa. É muito simples: só precisa clicar uma vez e o aparelho já te dá a temperatura, cujo valor ideal fica entre 36 e 37,5ºC. É normal uma temperatura mais baixa em mulheres ou idosos, que pode girar em torno dos 35ºC, mas o que não é normal e merece atenção é quando fica acima de 37,5ºC”, explica Rodrigo.
Dúvidas e orientações
O projeto SUS na Floresta, segundo Rodrigo, está em fase de implementação. “Estamos nesse primeiro momento colhendo dados dos ACS, marcando atendimento para ir até o ponto e receberem o atendimento por meio de parceiros, sendo o principal deles a UEA. Estamos acolhendo algumas das principais demandas também: muitos ACS, por exemplo, já falaram de acidentes frequentes que ocorrem, como os ofídicos, ou seja, acidentes relacionados a picadas de cobras”.
Uma das preocupações levantadas por um dos participantes, o ACS Lázaro Correia das Chagas, morador da comunidade Abelha, na RDS do Juma, foi a respeito do ambiente da consulta. “A gente precisa de um local reservado para as pessoas se sentirem à vontade para, por exemplo, tirar a roupa durante os exames sem se preocupar”, afirmou, logo depois sendo complementado por Rodrigo, que garantiu que esses espaços serão disponibilizados e nenhum paciente deverá ser exposto.
Lázaro também elaborou o formulário de triagem, que contém as informações necessárias sobre os pacientes, e discutiu na reunião sobre o documento. “Uma das coisas que vou ter que melhorar é sempre anotar o problema e o motivo de o paciente querer atendimento”, diz o ACS, fazendo ainda um balanço positivo do encontro virtual. “A reunião foi bem produtiva e serviu para esclarecer alguns materiais que nós não tínhamos conhecimento. A gente aprendeu como mexer nos novos equipamentos e achei muito bom, porque a gente que tá na área, na linha de frente, não pode fugir e desistir dos nossos compromissos”.
Desafios e perspectivas
Além do isolamento e das grandes distâncias geográficas em relação aos centros urbanos do Amazonas, um dos principais entraves enfrentados pelas comunidades ribeirinhas para ter acesso a um atendimento médico remoto é o da conectividade, já que muitas têm acesso limitado à internet e grande parte sequer dispõe de acesso à energia elétrica. Por isso, o “SUS na Floresta” já tem realizado a instalação de diversos pontos de internet em comunidades, além de placas de energia solar fotovoltaica.
Para aperfeiçoar a qualidade nos atendimentos dentro das comunidades, é necessário também uma construção coletiva baseada no contato direto com os agentes comunitários de saúde. “Vai muito para o lado pessoal de conversar com cada um deles, ver quais são as maiores dificuldades e prover a melhor troca de conhecimentos possível, porque eles também têm os saberes da medicina local, mas o nosso objetivo maior é contribuir para a comunidade”. Segundo Rodrigo, o projeto funciona para complementar o trabalho do SUS.
“O Projeto SUS na Floresta não é um sistema privado de saúde, é um parceiro do SUS. Então oferecemos uma grande ferramenta para os ACS, ensinando-os a usá-la e aprendendo com eles, explicando sobre essa oportunidade. Mas é realmente um grande desafio implementar uma iniciativa como essa, com atendimento de saúde por meio de videoconferência na maior Floresta Tropical do mundo, superando tantas barreiras geográficas e burocráticas para ter esse tipo de atendimento”, finaliza o consultor em saúde.