Mais de 1,4 mil famílias são contempladas com “ambulanchas” para auxiliar os serviços de saúde no interior do Amazonas
Iniciativa teve apoio da Embaixada da França e foi executada pela FAS para levar serviços de saúde de qualidade às comunidades ribeirinhas.
12/11/2020
Nas cidades, as ambulâncias fazem parte da rotina no trânsito. Entretanto, para quem vive às margens de um rio e utiliza a extensão das águas como vias de transporte, as chamadas “ambulanchas” protagonizam o deslocamento de pacientes. Na pandemia, essa embarcação e outros tipos de auxílio na saúde têm sido essenciais para as comunidades ribeirinhas no Amazonas. Por isso, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS), em parceria com a Embaixada da França, realizou a entrega de cinco ambulanchas, 11 canoas, kits de itens médicos e 2,5 mil litros de combustível, que beneficiarão 1,4 mil famílias de 42 comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, RDS Puranga Conquista e Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro.
A equipe da FAS também aproveitou a ação para realizar o cadastramento e o recadastramento de famílias beneficiárias do programa Bolsa Floresta, um sistema de pagamento por serviços ambientais que concede R$ 50 por mês para cada família ribeirinha. Dentre as regras para a adesão no programa estão o compromisso de não-desmatamento de florestas primárias, a participação em oficinas de gestão participativa e outras medidas para prevenir queimadas e garantir a presença dos filhos na escola.
Corrida contra o tempo
As doações são resultado das articulações da “Aliança Covid-Amazonas”, articulada pela FAS com 112 parceiros — entre instituições, empresas, governos e pessoas físicas — para minimizar os impactos da pandemia nas comunidades. Para isso, a questão logística toma protagonismo ao considerar-se as dificuldades de deslocamento. Se nas cidades os veículos enfrentam problemas como falta de sinalização, ruas esburacadas e congestionamentos, nos rios a natureza, muitas vezes, é quem decide o tempo e a rota a ser tomada.
Para Daniel Araújo, presidente do Fórum Permanente em Defesa das Comunidades Ribeirinhas (FOPEC), as ambulanchas chegam em boa hora, visto que a questão da saúde nas comunidades ribeirinhas é um retrato da realidade local. “Quando precisamos deslocar um paciente, a gente une forças, mobiliza a comunidade inteira para tentar um ‘bote’ rápido, busca a gasolina de um e de outro e coopera entre si para operacionalizar o transporte. Isso muitas vezes sem sinal de celular”.
Os responsáveis pela saúde local são os agentes comunitários de saúde (ACS), profissionais que residem nas comunidades onde atuam. Ivanilde Campos de Souza trabalha há nove anos como ACS e afirma que já se deparou com situações extremas e muitas vezes fatais por conta das viagens arriscadas de barco. “Teve o caso de uma família que enfrentou um temporal daqueles de madrugada para levar o filho doente de lancha até a cidade, mas infelizmente a criança não resistiu e morreu”, lamenta.
Em relação aos kits de saúde — que continham medidor de pressão, termômetro digital, luvas e outros itens —, é a primeira vez que Ivanilde recebe esse tipo de auxílio. “Eu já tive que comprar termômetro e outros aparelhos por conta própria várias vezes e teve momento em que eu precisava prestar socorro e não tinha nenhum aparelho. Então tudo isso já é uma ajuda muito grande, uma melhora para o meu trabalho.”
Critérios
Tanto as ambulanchas quanto as canoas e kits doados aos agentes comunitários de saúde são de responsabilidade das associações de moradores das Unidades de Conservação (UCs) para os quais foram destinados, como lembra o coordenador da missão, Adamilton Bindá. Ele explica que a FAS levou em conta critérios como segurança e localização para realizar as entregas. “Em algumas comunidades há relatos de casos de furto e a gente sabe que é fácil roubar as ambulanchas e os motores, então tivemos que ter cuidado com isso e escolher bem os locais mais seguros”.
O custo elevado das ambulanchas — em torno de R$ 50 mil reais cada — é um dos motivos para que houvesse uma orientação em cada comunidade no sentido de cuidar do novo patrimônio. Segundo Adamilton, “as ambulanchas são ferramentas que vão auxiliar muito os serviços de saúde, mas cada comunidade precisa se conscientizar que é um bem coletivo e zelar por ele, porque se a gente voltar e ver que houve mal uso ou descaso, vamos ter que remanejar a lancha para outra comunidade”.
Solenidade
A entrega dos equipamentos foi marcada por um evento ocorrido na comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na RDS do Rio Negro, e contou com a presença da superintendência da FAS, além de representantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema) e da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa), que também apoiam as ações. Para o superintendente geral da FAS, Virgilio Viana, a iniciativa faz parte de uma ampla estratégia da FAS voltada para a saúde pública, que envolve desde a formação de ACS até a disponibilização de serviços de telessaúde. “Esse plano complementa e fortalece as iniciativas feitas pelas secretarias de saúde, como uma forma de ampliar, fortalecer e ‘amazonizar’ o SUS”.
Sobre a FAS
A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos e sem vínculos político-partidários, com sede em Manaus (AM). O objetivo da ONG é promover o desenvolvimento sustentável na região amazônica, atuando conjuntamente com comunidades ribeirinhas do Amazonas. Por meio de diversos projetos e estratégias realizados no âmbito local e global, a FAS tem como foco os seguintes eixos: saúde, educação e cidadania, empoderamento, geração de renda, infraestrutura comunitária, conservação ambiental, gestão e transparência, pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Por Alessandra Marimon