Banzeiro da Esperança: quando as vozes da floresta guiam caminho - FAS - Fundação Amazônia Sustentável
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Banzeiro da Esperança: quando as vozes da floresta guiam caminho

Quando as vozes da floresta guiam o caminho através das águas da Amazônia.

A Amazônia em primeira pessoa

Narrativas que cruzaram o Rio Amazonas e chegaram para trazer suas proposições no maior evento climático do mundo: a COP30 da e na Amazônia
Há viagens que começam antes da partida. O Banzeiro da Esperança — esse barco que levou saberes, lutas e sonhos entre Manaus e Belém — não nasceu no estaleiro, mas no coração da Amazônia. Nasceu quando alguém, em alguma comunidade distante, olhou o rio – seco ou cheio demais – e se perguntou o que seria do futuro. Nasceu quando as primeiras histórias, aquelas contadas ao redor do fogo ou da mesa de farinha, se transformaram em voz coletiva.

Quando o barco atracou em Manaus para viajar até Belém, no dia 04 de novembro, ele já estava carregado de memórias, de urgências, de territórios. E, sobretudo, das pessoas da Amazônia e seus parceiros, vindos de vários lugares do Brasil e do mundo. Gente que guarda a floresta não porque mandaram, mas porque é assim que se vive. É assim que se respira. Ao longo de mais de 1.600 quilômetros, considerando o deslocamento Manaus-Belém, o Banzeiro navegou levando oficinas, saberes, música, ciência, oração e política. Era barco, mas era também escola, praça pública, museu, assembleia. E todos que estavam a bordo perceberam rapidamente que não se tratava de turismo: tratava-se de transformação.
“Ao longo de mais de 22 dias de viagem, o Banzeiro navegou levando oficinas, saberes, música, ciência, oração e política.”

O IMPACTO

Quilômetros Navegados
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Dias de viagem
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O Banzeiro da Esperança é uma articulação interinstitucional que mobilizou a sociedade para a maior conferência climática do planeta, realizada em Belém (PA). O projeto foi apresentado por meio da Lei de Incentivo à Cultura e Sabesp, com realização da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virada Sustentável e Ministério da Cultura. Conta com o patrocínio da Heineken SPIN, Vale e WEG, e com o apoio da Bemol, Banco da Amazônia, Ecosia, Edenred, Instituto Itaúsa e Suzano. O projeto também tem parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Rede Conexão Povos da Floresta e Ministério dos Povos Indígenas (MPI). A Rede Amazônica foi parceira de mídia do projeto.

Não foi por acaso que a “Carta da Aliança dos Povos Guardiões da Amazônia” emergiu justamente ali, entre águas que nunca fluem da mesma forma duas vezes. Ela nasceu da convivência diária, de plenárias improvisadas, de conversas longas sob o sol e da escuta paciente durante as noites agitadas pelo rio. A carta uniu indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agricultores familiares e extrativistas em um documento que traduz não apenas reivindicações, mas identidades, histórias e uma visão muito clara de futuro.
Para Estélio Munduruku, cada frase escrita era uma responsabilidade:
“Cada palavra foi escolhida com muito cuidado, para que os líderes mundiais sintam o pedido de reconhecimento dos povos da Amazônia”
Joélia Lobato completou:
“É uma carta escrita com o coração, com nossas dores e esperanças”
A Carta foi entregue ao presidente da COP30 como documento histórico e instrumento político, mas também como gesto espiritual: o reconhecimento de que a floresta fala — sempre falou — e que agora o mundo precisa escutar.

Demandas colocadas na carta:

Reconhecimento e garantia dos territórios

porque sem território não há vida, cultura nem futuro.

Gestão e financiamento direto na base

autonomia como ferramenta de justiça climática.

Protagonismo das mulheres amazônicas

guardiãs da regeneração da vida.

Valorização dos saberes ancestrais

ciência viva que molda decisões.

Juventudes e justiça climática

continuidade e coragem.

Vozes da Floresta: Comunicação Como Autodefesa

Se a Carta mostrou ao mundo as reivindicações estruturais dos povos da Amazônia, a oficina “Vozes da Floresta” mostrou algo igualmente crucial: que proteger a floresta exige proteger a informação. Durante o encontro a bordo do Banzeiro, lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhas, jovens comunicadores e organizações da sociedade civil discutiram diagnósticos, fake news e estratégias de comunicação comunitária.

Falaram sobre desertos de notícias, sobre vídeos manipulados, sobre correntes de WhatsApp que se espalham mais rápido que a maré. Falaram sobre como a desinformação afeta decisões concretas nas comunidades — desde cuidados de saúde até políticas ambientais. Roberta Anjos, da FAS, sintetizou bem: “Fortalecer a comunicação comunitária é tão importante quanto implementar projetos em campo”.
Fabiola Alves, da RDS Amanã, levou da oficina uma missão:

“A gente precisa alertar nossos pais e avós, que às vezes não têm tanta familiaridade com leitura. Se eles acreditam em algo falso, repassam. E isso vira verdade para muita gente”.
A etapa de criação de conteúdo — guiada pela Purpose — ajudou os participantes a transformar vivências em narrativas digitais, ampliando o alcance das histórias que não chegam à mídia tradicional. Como lembrou João Guilherme, do Instituto Democracia em Xeque: “Não são pessoas que chegaram agora ao debate: são pessoas mergulhadas nele. Estar no barco muda a forma de ouvir”.

Quando a cultura respira, a floresta respira

Se as informações fortalecem a mente e as cartas fortalecem a política, era a arte que fortalecia o coração. E no Banzeiro, arte não era entretenimento: era afirmação de identidade, resistência e cuidado coletivo. As noites culturais transformaram o convés em palco de encontros potentes:
— Djuena Tikuna, com a força ancestral de sua voz.
— Éder do Acordeon, levando sons do interior do Amazonas.
— O encontro em Parintins, onde Caprichoso e Garantido receberam o barco com a energia de quem sabe que a cultura amazônica é também ferramenta de proteção.

E houve ainda a performance de Lucélia Santos, com “Chico Mendes Vive”. A apresentação emocionou, provocou e lembrou que Chico não morreu: ele virou método. Virou mobilização. Virou memória coletiva. “Foi diferente realizar em um navio. Mas foi emocionante”, disse a atriz. Na COP30, a Virada Sustentável levou exposições que uniam impacto visual e denúncia ambiental: “A Onda”, feita de plástico reciclado; “Eggcident”, com ovos gigantes “fritando” no calor; e a retrospectiva de 50 anos de Araquém Alcântara.

O movimento que não acaba na margem

O Banzeiro partiu de volta a Manaus no dia 21 de novembro. Mas não foi embora. Ele deixou planos, acordos, compromissos, formações e uma certeza que unificava todos: o legado não estava no barco — estava nas pessoas. Ao longo do percurso, as comunidades consolidaram os Planos de Ação Climática, elaborados por 628 comunidades de cinco estados da Amazônia.

São documentos construídos na base, com prioridades claras:
– água e saneamento,
– bioeconomia e produção resiliente,
– infraestrutura adequada,
– proteção territorial,
– educação e cultura climática.

São planos que pedem não só reconhecimento, mas investimento. O cálculo apresentado na COP30 estima que a implementação completa custa R$ 21,7 bilhões — valor que, dividido por toda a Amazônia, revela algo simples: o custo de não agir é muito maior. Virgílio Viana reforçou: “O legado do Banzeiro é uma coalizão para fazer esses planos acontecerem na prática. É isso que mantém a esperança viva”. Valcléia Lima lembrou que a Amazônia não é cenário, mas protagonista. E que a COP30 não pode ser lembrada apenas como evento, mas como virada concreta de implementação.

A viagem terminou, mas a esperança segue navegando

No balanço do rio, o Banzeiro deixou uma lição simples e profunda: a Amazônia já produz soluções — o mundo precisa aprender a escutá-las. A esperança não veio da promessa de decisões perfeitas, mas do encontro entre povos, da força das mulheres, da coragem das juventudes, da firmeza dos territórios, da sabedoria dos anciões e da sensibilidade da cultura.

O Banzeiro da Esperança navegou.
A Carta da Amazônia se ergueu. Os planos de ação climática se consolidaram.
As comunidades se articularam. A arte criou caminhos.
A comunicação abriu clareiras.
E a Amazônia falou alto — não para pedir, mas para anunciar.

O futuro do clima global passa pela floresta.
E a floresta passa pelos povos que a defendem.

O Banzeiro cumpriu sua travessia.
Mas a esperança, essa, segue navegando.

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Edição de Eunice Venturi, com apoio de produção de conteúdo de Roberta Anjos, Emanuelle Araújo e Kamila Cavalcante, fotos: Lucas Bonny e Fernanda Cabral. Roteirização via ChatGPT.