REPORTAGENS
01/11/2022
Entre inspirações e vitórias: as mulheres que encantam no esporte da Amazônia
“A gente veio aqui para ganhar a medalha de ouro”. E ela ganhou! Juntamente com os colegas do time “Caju”, a jovem Samara Carvalho Teixeira integrou o grupo que levou o título de melhor time da IX Olimpíada da Juventude da Floresta. O evento foi promovido pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em julho de 2022, no município de Itapiranga, Amazonas. Aos 17 anos, Samara, que é moradora na comunidade do Livramento, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, ganhou seis medalhas e o reconhecimento de melhor atleta da competição.
Por Eunice Venturi
Durante os jogos, seu nome ecoava nas arquibancadas: “É a primeira vez que a gente tem uma torcida tão grande. Cada vez que eu escutava meu nome, cada vez que eles gritavam, eu me esforçava mais ainda, pois eu via que eles estavam felizes. Quanto mais eles torciam, mais eu tinham aquela motivação de finalizar, de fazer gol, e eu eu fiz três somente na final do futebol feminino”.
“Meu sonho é ser jogadora de futebol. Um dia vou realizar esse sonho, vou ser jogadora de futebol profissional, como a Marta. Daqui a dez anos, eu vou ser uma ótima atleta e vou dar uma vida melhor para meus pais, para eles saírem do roçado”.
Foto: Samara Souza
Segundo a atleta, a derrota do time masculino também serviu de motivação para a conquista do primeiro lugar no futebol feminino: “Eu fui lá e falei pra eles que não era para eles ficarem tristes, pois nós íamos levar o primeiro lugar por eles”.
Participando da segunda olimpíada, Samara tem um sonho e uma inspiração: “Meu sonho é ser jogadora de futebol. Um dia vou realizar esse sonho, vou ser jogadora de futebol profissional, como a Marta. Daqui a dez anos, eu vou ser uma ótima atleta e vou dar uma vida melhor para os meus pais, para eles saírem do roçado”. A segunda Olimpíada também será a última, já que Samara atingiu o limite de idade para participar da competição: “Hoje eu tava pensando, fiquei triste, porque tava vendo a alegria dos novatos que vão poder participar no próximo e eu não vou poder mais. Então, eu dei o meu melhor para me despedir com muitas vitórias daqui de Itapiranga. ”.
A cada ponto conquistado, uma comemoração.
Foto: Samara Souza
Olimpíada de mestres
O universo do esporte é rodeado de grandes craques, estrelas, vencedores. Além daqueles que sempre estão na “vitrine”, em geral, atletas com histórias de superação, há aqueles que educam, ensinam, transmitem conhecimentos: os mestres. Encontramos vários desses apaixonados pela educação e pelo esporte durante a Olimpíada em Itapiranga.
Uma inspiração é a professora Lucylene Cunha, que deixou a vida com mais infraestrutura na cidade onde nasceu, Manaus, para lecionar no interior do estado. Há 12 anos, atua na comunidade Bela Vista, RDS do Uatumã. “Nossa escola é muito simples, muito simples mesmo. Este ano, foi fechada porque tinha muito morcego e fezes do animal. Juntamente com os professores, nós fomos dar aula numa casa pastoral, que chovia dentro. Nós não poderíamos deixar nossos alunos sem aula”, disse.
Emocionada, a professora Lucylene Cunha, uma apaixonada pela educação.
Foto: Samara Souza
Professora ribeirinha, formada em pedagogia por influência do irmão, que antes de morrer deixou uma missão: “seja professora”, disse. Líder na comunidade, formou o time “Tucunaré” – nome de um peixe comum na região – e liderou os 17 estudantes rumo à Itapiranga: “Nós viemos representar a comunidade e participar pela primeira vez da Olimpíada. Além de competir, eles estão tendo a oportunidade de interagir com jovens de outras regiões, que tem outras realidades. Desses jovens, alguns são filhos de agricultores que nunca tiveram a oportunidade de sair da comunidade”.
Bela Vista é uma comunidade de 70 moradores que fica a 14 horas de barco de Itapiranga, local da Olimpíada (veja mapa abaixo). Tudo foi muito comemorado, inclusive a chegada do barco para levar os atletas: “Isso nunca tinha acontecido, um barco buscar atletas na nossa comunidade. Quando o barco encostou na nossa comunidade, parecia que o meu coração ia pular. Eu falei: vamos filmar, olha que legal, o barco veio na nossa comunidade!! Aí os pais vieram e foi aquela alegria, aquela emoção”
Já em Itapiranga, os momentos foram desafiadores. O time não foi bem no primeiro desafio – um jogo de cabo de guerra. “Logo na primeira prova, o nosso time perdeu. Um atleta me procurou emocionado pela derrota. Eu disse que era a primeira batalha e ainda tinha muita competição e jogo pela frente. No jogo seguinte, o time venceu e agora tem chance de ganhar medalha”.
O estudante que Lucylene se referiu é o atleta Natanael Rodrigues, de 17 anos. Na Olimpíada competiu no cabo de guerra, no lançamento de dardo e no futebol. Natanael contou como foram os momentos para decidir pela participação na Olimpíada: “Ela – a professora Lucylene – mandou mensagem no grupo da nossa comunidade que a gente tinha sido convidado para a Olimpíada em Itapiranga. Organizamos o time e treinamos as modalidades que a gente menos sabia, pois na comunidade a gente só joga futebol. É a primeira vez que a gente vem competir, os resultados até agora não são bons, a gente perdeu logo no primeiro e no dardo a pontuação foi baixa”.
Na imagem, o time “Caju”, primeiro colocado no ranking geral, sob liderança da jovem Samara.
Foto: Samara Souza
O Time Tucanaré terminou a competição com nove medalhas e o terceiro lugar no futebol masculino. Sobre a educadora, Natanael recorda dos ensinamentos com carinho: “Ela me ensinou que a gente deve respeitar os mais velhos. Vou guardar para o resto da minha vida”. Natanael terminou as Olimpíadas com mais ensinamentos na bagagem.
A Olimpíada da Juventude da Floresta recebeu recursos via leis de incentivo da Unilever, Farmacêutica EMS, Vivara, Yamaha, Ticket Log, Repom, Bic, Edenred, Guascor do Brasil, e parceria do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), das Prefeituras de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas.