Organizações socioambientais da Venezuela apontam necessidade modelos sustentáveis e inclusivos para o desenvolvimento da Amazônia - FAS - Fundação Amazônia Sustentável
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Organizações socioambientais da Venezuela apontam necessidade modelos sustentáveis e inclusivos para o desenvolvimento da Amazônia

Organizações socioambientais da Venezuela apontam necessidade modelos sustentáveis e inclusivos para o desenvolvimento da Amazônia
junho 29, 2023 FAS

Organizações socioambientais da Venezuela apontam necessidade modelos sustentáveis e inclusivos para o desenvolvimento da Amazônia

Representantes da sociedade civil e do governo venezuelano trocam experiências e definem diretrizes, em preparação para a Cúpula da Amazônia, em agosto

29/06/2023
Imagem de webinar promovido pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e SDSN.

Brasil e Venezuela são países vizinhos, irmãos latino-americanos, que carregam semelhanças na cultura, história e economia. Entre as heranças e responsabilidades compartilhadas, a Amazônia certamente é um dos maiores destaques. O bioma amazônico é presente nas duas nações e representa grande porção dos territórios de ambas, com toda a rica biodiversidade e também os desafios associados à gestão da maior floresta tropical do mundo. Por isso, falar do futuro da Amazônia e do clima no planeta é falar de Brasil e Venezuela e da cooperação entre países amazônicos. 

Em preparação à Cúpula da Amazônia, que vai reunir representantes de governos da Pan-Amazônia na cidade de Belém do Pará em agosto de 2023, organizações da sociedade civil de seis países da região Amazônica estão promovendo uma série de diálogos gratuitos e virtuais sobre questões socioambientais na Amazônia. Na última terça-feira (27/06), aconteceu o debate “Contribuições da Venezuela para a Cúpula da Amazônia”. 

Em busca de um olhar comum para a Amazônia  

“Complexa e interessante” é como Gabriel Quijandría define a conjuntura atual da Amazônia. “É um cenário novo de regresso à Amazônia, digamos assim, a uma discussão muito mais profunda, muito mais ligada às discussões globais sobre mudanças climáticas, diversidade biológica, restauração da Terra, o que acredito que coloca de volta à mesa a necessidade de construir um modelo adequado de uso sustentável e restauração da nossa Amazônia”, afirma o diretor da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) na América do Sul e participante do diálogo. 

Apesar do tamanho relativamente pequeno, a Venezuela é dona de uma pluralidade de climas e ambientes, das altitudes andinas à costa caribenha, com destaque para a região amazônica, que representa cerca de metade da extensão do país. Terra de povos originários e de riquezas naturais, assim como o Brasil, a Amazônia venezuelana sofre nas últimas décadas com o desmatamento, o crime e a superexploração de minérios.  

Quijandría indicou ainda a necessidade de mudar a ótica internacional que associa a imagem da Amazônia exclusivamente ao Brasil, no que pese o protagonismo desse país, e que se deve considerar também o papel fundamental de cada nação e povos pan-amazônicos na conservação desse bioma.  

Essa visão foi partilhada pelos representantes do Minec, órgão governamental responsável ambiental e climática da Venezuela. “O ministério trabalha com um conjunto de políticas públicas de gestão territorial da Amazônia como uma oportunidade de conservação e uso sustentável por seus povos, especialmente seus povos nativos”, disse o assessor ambiental Abigail Castilho. Durante a fala do ministério, foram apresentados os principais avanços e atividades das políticas ambientais, de ordenação de território e gestão de espaços naturais na Amazônia venezuelana. 

Em seguida, Irene Zager apresentou o trabalho realizado na Venezuela pela RAISG (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada), união de organizações voltado para a sustentabilidade socioambiental da Amazônia. A diretora de pesquisa destacou a importância da presença humana nessa região da Amazônia, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, entre elas representantes de 23 povos indígenas.  

“O desafio, portanto, que estamos enfrentando e que estamos discutindo aqui é de como proteger esse rico mosaico ambiental social e cultural e, ao mesmo tempo, trabalhar para o desenvolvimento sustentável de seu povo e do país”, apontou a pesquisadora. De acordo com o monitoramento da RAISG, as atividades de extração mineral e de agropecuária têm levado à perda de cobertura florestal na Amazônia venezuelana, além de terem desencadeado conflitos de terra, violência e questões sanitárias que ameaçam as populações tradicionais e povos originários. 

“Um desafio para nós é a mineração ilegal, que levou a uma poluição excessiva e exorbitante, que nos afetou muito”, contou Yuneidy Perez, membro da Asociación Civil Afrodescendientes de Aripao. Em Aripao está localizada ao sul do rio Orinoco no interior de um parque nacional. Os moradores da comunidade desenvolvem um projeto de conservação e uso sustentável de recursos naturais, contribuindo com a proteção da floresta. “Extraímos materiais não madeireiros, como a sarrapia, o óleo de copaíba e outros produtos, como o moriche, que temos na região”, relatou Yuneidy Perez. “As áreas onde estamos conservando e temos o projeto não foram afetadas pela contaminação porque as monitoramos mensalmente com as famílias da comunidade”. 

A iniciativa foi uma realização da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia), secretariada pela FAS, em aliança com a organização Provita; União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) na América do Sul, Ministerio del Poder Popular para el Ecosocialismo (Minec); Organización Regional de Pueblos Indígenas de Amazonas (Orpia); Asociación Civil Afrodescendientes de Aripao; Phynatura; e movimento Todos por el Futuro. 

O debate será dividido em duas mesas temáticas: “Expectativas, desafios e oportunidades de povos indígenas e comunidades locais”, e “Expectativas, desafios e oportunidades de iniciativas da sociedade civil”.  

 

Sobre os eventos  

Os eventos on-line com representantes da sociedade civil desses países são promovidos pela SDSN Amazônia, instituição ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) e secretariada pela FAS. Este é o quarto encontro da série especial de diálogo e articulação de demandas, que tem o objetivo de contribuir para o posicionamento e a incidência política da sociedade civil pan-amazônica, povos indígenas e comunidades locais na agenda climática global.  

Ao final dos encontros, será elaborada uma carta conjunta de reivindicações para apresentação aos chefes de Estados dos oito países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), durante a Cúpula da Amazônia, nos dias 8 e 9 de agosto, em Belém (PA).   

 

Sobre a SDSN Amazônia   

A Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia), criada em 2014 na cidade de Manaus (Brasil), é uma rede regional da SDSN Global. A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) realiza a secretaria executiva da rede. A organização visa mobilizar o conhecimento local na busca e criação de soluções práticas e viáveis para os desafios relacionados ao desenvolvimento sustentável da Pan-Amazônia.   

 

Sobre a FAS 

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio de programas e projetos nas áreas de educação e cidadania, saúde, empoderamento, pesquisa e inovação, conservação ambiental, infraestrutura comunitária, empreendedorismo e geração de renda. A FAS tem como missão contribuir para a conservação do bioma pela valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade e pela melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia. Em 2023, a instituição completa 15 anos de atuação com números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas entre 2008 e 2021. 

 

Créditos de imagem: Divulgação/FAS