Crônica de Ricardo Young sobre Isolena Garrido
01/02/2011
Isolena abre sua sala, cuja janela dá para a imensidão do rio Negro. Traços marcantes, gestos decididos e rara beleza fazem dessa jovem mulher uma personagem que não passa despercebida na comunidade ribeirinha de Tumbiras. Filha mais nova do fundador dessa comunidade vocacionada para a construção de barcos, beneficiou-se da condição de mestre do pai e conseguiu ir a Manaus estudar.
Sua história poderia ser como a de milhares que saem do Brasil profundo buscando futuro melhor nos grandes centros. Isolena não. Ciente de que foi uma das poucas a ter tal oportunidade, resolveu voltar para que as gerações futuras de Tumbiras não fossem condenadas ao isolamento. Na volta, junto com dona Raimunda, por décadas a única professora dali, resolveram lutar para fazer com que a escola pública de Tumbiras fosse uma escola de verdade.
O destino desta jovem idealista e desta senhora extraordinária cruzariam com um fato que começa a fazer diferença na Amazônia. Criada por iniciativa do governo do Amazonas e do Bradesco, a Fundação Amazonas Sustentável tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a qualidade de vida das comunidades usuárias das unidades de conservação do Estado.
Em outras palavras, valorizar a floresta, remunerar as comunidades pelos serviços florestais e garantir saúde, educação, renda e interação para que a população possa se fixar nas comunidades. A meta é desenvolvê-las com as mais avançadas tecnologias de manejo florestal e oportunidades geradas pelo mecanismo do REDD+, adição de valor a produtos tradicionais da floresta. Essa parceria pública/privada vem se constituindo em um possível modelo para desenvolvimento local sustentável, tornando a economia florestal algo viável e que beneficie, prioritariamente, aos que nela vivem e dela dependem.
A comunidade de Tumbiras decidiu que a prioridade dela seria a educação. Isolena, cosmopolita e articulada, e a professora Raimunda, de sabedoria curtida nos trópicos, encontraram na FAS a possibilidade de trazer para a floresta o que há de mais avançado em ensino à distância, tecnologia digital e ensino presencial.Em salas de aula especialmente construídas, os alunos têm aulas pelo sistema de ensino à distância da Globo em parceria com a Secretaria de Educação do Amazonas.
Os conteúdos didáticos têm a mesma qualidade das melhores escolas de Manaus com interação via internet com professores on-line, acrescidos do ensino local em saberes como meio ambiente, recursos hídricos e biodiversidade. A contemporaneidade no Brasil profundo? É possível… Isolena sorri um sorriso ensolarado de quem sabe que faz hoje pelo futuro de muitos o que um dia fizeram pelo dela.
*Ricardo Young é empresário e conselheiro do Instituto Ethos.