COP 30: soluções sustentáveis devem liderar agenda climática, dizem especialistas
20/03/2025

Pela primeira vez, o Brasil sediará a maior conferência global sobre mudanças climáticas. A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) será realizada em Belém, no Pará, reunindo mais de 60 mil participantes, entre chefes de Estado, diplomatas, lideranças indígenas e tradicionais, empresários, investidores, ativistas e delegações dos 193 países membros da ONU. Com a Amazônia no centro das atenções, o evento é visto como uma oportunidade histórica para impulsionar soluções climáticas e baseadas na natureza efetivas.
A conferência traz pautas cruciais como a redução de gases do efeito estufa (GEE) e o financiamento climático por países desenvolvidos. Para especialistas, a realização da COP na Amazônia reforça a importância da região na luta contra as mudanças climáticas e destaca a necessidade de soluções sustentáveis.
“A COP 30 é uma grande oportunidade para o Brasil, para a Amazônia, porque o país vai presidir e coordenar as negociações climáticas. Isso tem duas importâncias. Primeiro, o Brasil é muito reconhecido por sua competência diplomática; e segundo, a COP trará os impactos climáticos que tem nos afetados cotidianamente, principalmente os povos das florestas. Esse chamado para a realidade e a urgência possibilitarão que as negociações andem mais rápido”, pontua Victor Salviati, superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
A conferência ocorre após a COP 29, realizada em Baku, no Azerbaijão, que gerou frustração devido à falta de assertividade nas decisões climáticas. Um dos principais pontos discutidos foi a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês), que definiu o financiamento de US$ 300 bilhões anuais pelos países desenvolvidos até 2035. Entretanto, esse valor foi considerado insuficiente diante da demanda de US$ 1,3 trilhão por ano, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
Outro ponto crítico é a falta de consenso sobre a redução do uso de combustíveis fósseis, tema que se arrasta desde a COP 28. Para Salviati, a COP 30 deve colocar essas questões em pauta e estabelecer metas realistas e ambiciosas com ampla participação social.
“Essa COP vai ser muito importante para que o governo brasileiro tenha uma plataforma muito compreensiva e inclusiva. A participação social vai ser muito intensa, que vai das Organizações da Sociedade Civil (OSC), movimentos sociais, lideranças indígenas, caboclas e quilombolas a empresas e cientistas. O governo brasileiro vai ter o nosso apoio para fazer da COP de Belém a ‘COP da Transformação’”, finaliza Salviati.
Virgilio Viana, superintendente geral da FAS, reforça que, apesar de ocorrer na Amazônia, a COP 30 não é um evento focado apenas no Brasil, mas uma agenda global que deve ampliar o debate sobre Soluções Baseadas na Natureza (SbN).
“É necessário distinguir o que é uma COP na Amazônia e no Brasil, e uma COP sobre o Brasil. Essa não é uma COP sobre nosso país, ela é uma agenda global. O grande significado dela acontecer em Belém é que ela sai do Oriente Médio – países produtores de petróleo – e é importante que tenha ocorrido lá, porque o aquecimento global está ligado ao uso dos combustíveis fósseis. Com a vinda para o Brasil, a grande importância é debater as Soluções Baseadas na Natureza, o papel dos povos da floresta nesse debate, e o papel da diplomacia brasileira”.
Com uma programação intensa, a FAS e diversas instituições já estão mobilizadas para a COP 30.
“Enxergamos a COP como uma série de discussões de processo de tomada de consciência, educação, engajamento e, principalmente, decisões entre diversos setores na agenda de mudanças climáticas. A expectativa para a COP deste ano é enorme. A Amazônia estará no centro das atenções, e devemos estar preparados para cobrar as ações necessárias nessa agenda de mudanças climáticas, com um foco na adaptação. Não temos planeta B, precisamos agir agora”, finaliza.
Mais do que nunca, essa é uma oportunidade de trabalho conjunto entre governos, sociedade civil, empresas e organizações comprometidas com a floresta viva e com o cuidado com as pessoas que cuidam e vivem nela.
A ambientalista quilombola e superintendente de Desenvolvimento Sustentável da Comunidades da FAS, Valcléia Lima, reforça outro ponto importante que também deve ser levado em consideração nesta COP: a equidade de comunicação direcionada às populações tradicionais.
“É fundamental que as vozes das comunidades tradicionais sejam ouvidas. Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas vivem as consequências das mudanças climáticas de forma direta. Muitas vezes, esses grupos são excluídos dos debates ou confrontados com uma linguagem técnica que os distancia do processo decisório. A comunicação equitativa deve ser uma prioridade. Tornar acessíveis conceitos como resiliência, sustentabilidade e adaptação é garantir que essas populações possam participar ativamente, não apenas como espectadores, mas como protagonistas”, pontua.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 17 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.
Créditos de imagem: Rodolfo Pongelupe