Oficina “Vozes da Floresta” reúne lideranças amazônicas para enfrentar a desinformação climática e fortalecer a comunicação comunitária
14/11/2025
Lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas, jovens comunicadores e representantes de organizações da sociedade civil participaram da oficina “Vozes da Floresta: Do Diagnóstico à Ação Digital”, atividade promovida pela Rede de Parceiros pela Integridade da Informação sobre Mudança do Clima (RPIIC), conduzida pelo Instituto Democracia em Xeque (DX) e Purpose, com Fundação Amazônia Sustentável (FAS) como anfitriã.
A oficina aconteceu nesta sexta-feira, dia 14 de novembro, no Barco Cultural “Banzeiro da Esperança”, que está em Belém para a COP30. A programação integra os esforços da Iniciativa Global pela Integridade da Informação sobre Mudanças no Clima, que reúne mais de 130 organizações dedicadas ao combate à desinformação e à democratização do acesso à informação qualificada.
A atividade, voltada a participantes com diferentes níveis de inclusão digital, buscou fortalecer capacidades locais para identificar, checar e produzir conteúdos confiáveis sobre clima e meio ambiente — tema especialmente sensível na Amazônia, marcada por desertos de informação e circulação intensa de conteúdos falsos. Roberta Anjos, supervisora de Comunicação da FAS, reforçou a importância da iniciativa e o compromisso da FAS como integrante da Rede:
“A FAS tem muito orgulho de integrar a Rede de Parceiros pela Integridade da Informação sobre Mudança do Clima. Para nós, fortalecer a comunicação comunitária é tão importante quanto implementar projetos em campo. A Amazônia precisa ter protagonismo sobre suas próprias narrativas, e iniciativas como essa oficina ajudam a garantir que as vozes das comunidades sejam ouvidas, respeitadas e ampliadas”.
A oficina teve três momentos: diagnóstico, ferramentas e criação comunitária. Na etapa de diagnóstico houve uma dinâmica interativa, onde os facilitadores mapearam como os participantes consomem notícias e identificaram casos reais de desinformação nos territórios. Foram apresentados conceitos-chave como desertos de notícias, vácuos de informação e os impactos diretos de fake news na vida cotidiana das comunidades.
Em seguida, os participantes aprenderam estratégias acessíveis de verificação — desde as “Três Perguntas de Ouro” para avaliar correntes de WhatsApp até demonstrações de ferramentas digitais como Talkwalker, Google Notícias e busca reversa de imagens. Por fim, a metodologia contou com histórias da floresta, módulo conduzido pela Purpose, lideranças e comunicadores ouviram sobre como transformar suas vivências em conteúdos digitais positivos, confiáveis e capazes de engajar públicos de diferentes territórios.
Entre os participantes, a influenciadora Fabiola Alves, moradora da Comunidade Santa Luzia do Baré, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Amanã (Maraã/AM), destacou a importância prática da oficina no cotidiano das comunidades amazônicas: “No primeiro momento, os palestrantes nos incentivaram a entender como não disseminar informações falsas e como evitar passar uma informação errada. Isso é importante até pra gente que é mais jovem, para alertar nossos pais e pessoas mais idosas, que às vezes têm menos familiaridade com leitura e acabam acreditando no que recebem pelo celular. Vou levar isso como experiência, ficar mais atenta e tentar ajudar quem estiver ao meu alcance.”
Fabiola também avaliou como inspiradora a etapa de criação de conteúdo conduzida por Mariana Disse: “Foi incrível. Juntamos várias ideias ao mesmo tempo, com pessoas de lugares e histórias diferentes. Aprendemos como transformar tudo isso em um vídeo, pegando as falas e dificuldades de cada um. A Mariana deu dicas de como segurar o público, chamar atenção, entregar a mensagem. Também falou sobre preconceitos que a gente enfrenta — como quando acham que aqui não tem shopping ou que não comemos pizza. A troca foi muito legal. Achei tudo muito proveitoso.”
A oficina reforçou a importância de valorizar as histórias e saberes dos territórios amazônicos como ferramentas essenciais para proteger a floresta, fortalecer a democracia e combater a desinformação climática. “Mais do que ensinar técnicas de vídeo, a proposta é mostrar que a comunicação feita pelas próprias comunidades é uma das formas mais potentes de enfrentar a desinformação e defender a Amazônia”, destacaram os organizadores.
João Guilherme, diretor do Instituto Democracia em Xeque, destacou a potência do encontro e a imersão proporcionada pelo Banzeiro: “Foi uma experiência maravilhosa. As pessoas têm histórias muito interessantes e contribuíram muito — foi uma troca e um aprendizado real. Estar no barco fez toda a diferença: a convivência e a imersão criam outra abertura para o tema. Não são pessoas que acabaram de chegar, mas que estão mergulhadas e refletindo sobre isso ao longo da jornada. Espero que tenhamos ajudado a entender melhor esse ecossistema de informações e como cada um navega por ele, no sentido literal e figurado.”
O Banzeiro da Esperança é uma articulação interinstitucional que visa mobilizar a sociedade para a maior conferência climática do planeta, realizada em Belém (PA). O projeto é apresentado por meio da Lei de Incentivo à Cultura e Sabesp, com realização da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virada Sustentável e Ministério da Cultura. Conta com o patrocínio da Heineken SPIN, Vale e WEG, e com o apoio da Bemol, Ecosia, Edenred, Instituto Itaúsa e Suzano. O projeto também tem parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Rede Conexão Povos da Floresta e Ministério dos Povos Indígenas (MPI). A Rede Amazônica é parceira de mídia do projeto.
Créditos de imagem: Lucas Bonny