Professor dribla falta de estrutura com esperança em um futuro melhor para jovens ribeirinhos da Amazônia
Aluno da formação de professores para o ensino multisseriado da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Alvanir Oliveira aprendeu a utilizar os recursos da natureza para abordar conservação.
31/01/2021
Na comunidade São João do Lago do Jenipapo, no município de Coari (distante 363 quilômetros da capital), o professor Alvanir Oliveira trabalha sem energia elétrica, mas com muita vontade de transformar a vida dos alunos. São quase 20 anos dedicados à educação ribeirinha – uma trajetória cheia de desafios e potencialidades que só a floresta pode oferecer.
A turma de Alvanir, na Escola Municipal João Rocha Linhares, reúne 16 crianças do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental. Essa realidade se repete em diversas escolas da zona rural, onde a baixa densidade populacional, a carência de professores e as dificuldades de locomoção e infraestrutura exigem a criação de classes multisseriadas.
Foi para aprender metodologias que ajudassem a atender a diversidade dessas turmas que o docente decidiu participar, no ano passado, das oficinas de formação de professores para o ensino multisseriado, promovidas pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), por meio de uma parceria com a Petrobras.
“Eu tive que me aprimorar, buscar mais conhecimento, métodos para aplicar em sala de aula. Aprendi como utilizar os recursos da própria natureza para ensinar e incentivar os alunos a preservar o local onde vivem”, afirma o professor, que na época do treinamento lecionava para uma turma de 30 alunos do primeiro ao quinto ano, na Escola Municipal Deolindo Dantas, localizada na comunidade Via Sales, também em Coari.
Junto com Alvanir, cerca de 200 professores da rede pública de ensino de Coari, Tefé, Maraã e Uarini, no interior do Amazonas, vêm participando da formação, que acontece duas vezes ao ano em cada município. Na nova escola, onde começou a atuar no início deste ano, o professor segue aplicando as técnicas que aprendeu, com o intuito de levar uma abordagem mais lúdica para a sala de aula. Além de ensinar alunos de idades e níveis educacionais diferentes, Alvanir enfrenta outros desafios comuns na zona rural do estado.
“Minha casa fica na sede do município. Eu me desloco, vou para a comunidade, passo cerca de 25 a 30 dias lá. Depois retorno para minha casa para recarregar a bateria, fazer rancho, essas coisas, e, então, vou para a comunidade novamente. É assim que funciona. A dificuldade maior é essa, porque a gente deixa a família. Eu tenho criança pequena e não posso levar por questão de estrutura”, relata.
Os alunos também precisam vencer as dificuldades logísticas da Amazônia para conseguir estudar. Muitos dependem do transporte fluvial, conta Alvanir. “Quando seca o lago, o caminho é mais difícil, fica intrafegável. Por terra, como a gente fala, é mais ou menos quatro a cinco horas de caminhada e os alunos já chegam exaustos para as atividades. Não tem como virem todos os dias nesse período. Eles vêm duas vezes na semana, às vezes três. Há esse déficit de aprendizagem, de repasse de conteúdo”, diz.
Engana-se, porém, quem pensa que ser educador na região é só desafio e precariedade. Ter a oportunidade de gerar impacto na sociedade e proporcionar a esperança de um futuro melhor para os pequenos ribeirinhos é o que o motiva a seguir trabalhando no interior do Amazonas, onde nasceu e cresceu.
“A satisfação é muito grande quando a gente vê que o trabalho deu frutos. É uma alegria, no final do ano, quando alunos e pais vêm me agradecer; quando eu vejo aquele aluno que praticamente não sabia ler e no final do ano conseguiu”, destaca.
Alvanir é natural de Codajás e se mudou para Coari com oito anos de idade. Se formou pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e, no ano passado, concluiu o curso de Filosofia na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Hoje, aos 40 anos, deseja continuar realizando um bom trabalho como professor na região e sonha com mais investimento e políticas públicas voltadas para a educação.
“Sabemos que a educação é a base de tudo e, infelizmente, hoje, no nosso País, especialmente na nossa região, não é dada uma atenção especificamente voltada para atender esses anseios, que tanto a gente luta. A questão de mudar o mundo começa, eu acredito, na sala de aula”, conclui.
Sobre o Projeto Amazonas Sustentável
O projeto “Amazonas Sustentável” é uma iniciativa da FAS, em parceria com a Petrobras, com o objetivo de promover a conservação ambiental, contribuir para o desenvolvimento local e melhoria das condições de vida ribeirinha. As comunidades beneficiadas diretamente estão distribuídas ao longo de cinco Unidades de Conservação do Amazonas: as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Uacari e do Rio Negro, a Reserva Extrativista Catuá-Ipixuna e a Área de Proteção Ambiental do Rio Negro. Essas unidades são geridas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema). A FAS também possui parcerias com mantenedores como Bradesco, Lojas Americanas, Samsung, Coca-cola Brasil e Fundo Amazônia.