Artesãos da floresta expoem produtos na maior feira de artesanato da América Latina, em Olinda-PE
18/07/2017
Cinco mil quilômetros. Essa é a distância que dona Rozenice Amaral superou para se juntar aos grandes artesãos brasileiros. Dona Nice, como é conhecida, lidera o grupo de artesãs da comunidade de São João do Ipecaçu, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Amanã, no Amazonas. Desde 2015 a distância entre seus sonhos e a realidade vem mudando. À convite da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), ela foi no período de 6 a 16 de julho desse ano pela segunda vez à Feira Nacional de Negócios e Artesanato (FENEARTE), em Pernambuco, a maior do segmento de artesanato da América Latina.
Dona Nice levou cestas, bijuterias e outros objetos de teçume, matéria-prima das peças produzidas pelo coletivo de 32 mulheres de São João do Ipecaçu, uma das comunidades atendidas pelo Programa Bolsa Floresta (PBF). Chegando lá, conheceu peças dos melhores artesãos do Brasil.
O gigantismo da feira serviu de estímulo para dona Nice buscar aprimorar as peças produzidas na reserva. E foi o que o coletivo de artesãs de São João decidiu fazer. De 2015 pra cá, as mulheres do Amanã participaram de várias oficinas oferecidas pelo Programa de Empreendedorismo da FAS, recebendo designers renomados do Brasil com ajuda do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae-AM) e lançaram sua própria marca: Teçume da Amazônia.
A evolução de Dona Nice e a persistência do grupo deu resultados. Na última semana, a artesã desembarcou mais uma vez em Olinda. Dessa vez, ela expôs cada um dos 523 produtos que levou para a FENEART no stand do Amazonas.
“Desde a primeira vez que fui, nossos produtos evoluíram muito, tanto no design quanto na qualidade”, conta ela, “Desenvolvemos novas tinturas, por exemplo, a partir da folha de crajiru, do açafrão. Nosso teçume ganhou cores” afirma.
Do Amazonas para o Brasil
Além do artesanato feito de teçume das mulheres de São João, o stand do Amazonas na FENEARTE desse ano teve 200 peças de resíduos de madeira e 233 feitas a partir do beneficiamento de sementes coletados na reserva. Essas peças foram levadas pelos líderes locais, Clécio Arago e Pedrina Mendonça, das comunidades de Nova Esperança (RDS Puranga Conquista) e Saracá, no Rio Negro. Materiais, comunidades e histórias diferentes. Mas todos os produtos com uma só origem: a natureza.
“O beneficiamento de sementes, os tingimentos, resíduos de madeira: é tudo fruto da observação e do aproveitamento do que a natureza oferece” comenta Wildney Mourão, coordenador de empreendedorismo da FAS.
“No final, são todos produtos que associam o saber manual passado pelas gerações e valorizam a natureza de forma criativa” conclui o coordenador.
Arte que transforma
O trabalho dos artesãos da floresta carrega a cultura e a criatividade materializada em produtos que encantam pela originalidade. Além de espaços no Brasil como a FENEARTE, que promovem vendas anuais, hoje os artesãos ribeirinhos contam com uma vitrine no próprio Amazonas: o Jirau de Produtos da Floresta. Localizado no Hotel Ibis Aeroporto, em Manaus, o Jirau é um espaço feito de madeira, para exposição e venda de produto produzidos por comunitários da floresta, como artesanato, chocolate e redes.
“O Jirau é um espaço de exposição e venda desses produtos localizado em um ambiente que tem um grande fluxo de pessoas. Isso tem aumentado o número de vendas e é mais uma mecanismo de geração de renda pelo artesanato” comenta Wildney.
O artesanato tem, assim, um grande potencial de se tornar a principal fonte de renda para comunidades de Reservas no Amazonas, uma forma de fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada. Além disso, é um importante caminho de empoderamento ribeirinho – em especial das mulheres.
“Cresci trabalhando na roça com meu marido, mas quem cuidava do dinheiro era ele. O que eu queria comprar precisava pedir dele,” comenta. Desde que começou a vender pelo Teçume da Amazonia, em especial nas grandes feiras, as coisas mudaram.
“O artesanato permitiu que eu e as outras mulheres da comunidade tivéssemos nossa própria renda. Hoje a gente até empresta dinheiro pros homens”, comenta rindo.
Depois dos resultados dessa FENEARTE, ninguém duvida. A venda dos produtos das mulheres do Teçume da Amazonia rendeu aproximadamente R$9.748,40. E a artesã já voltou com encomendas de lojistas para vários lugares do Brasil. Dois anos depois de sua primeira experiência na FENEARTE, ela está voltando para São João do Ipecaçu de um jeito diferente. “Com muita inspiração mas de malas vazias”, ri.