Cadeias produtivas ribeirinhas são tema do evento de negócios inclusivos na sede da FAS
25/02/2017
Como experiências de empreendedorismo em comunidades ao redor do mundo podem ajudar as cadeias produtivas no Amazonas? Esse foi um dos temas do qual tratou o evento “Arranjo produtivos ribeirinhos: desafios e oportunidades”, realizado nesta quarta-feira (22) na sede da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). Durante todo o dia, representantes de universidades, institutos de ciência e tecnologia, incubadoras e empreendedores discutiram os desafios e possíveis soluções para desenvolvimento maior das cadeias de produção amazônicas.
Para contribuir com o diálogo, o evento contou com a presença da professora da Fundação GetUlio Vargas (FGV-RIO) Silvia Pinheiro e da representante da Escola de Negócios da Universidade de ESSEX, na Inglaterra, professora Diane Holt. As pesquisadoras compartilharam suas experiências com direitos humanos e empreendedorismo comunitário em países como a Ãfrica do Sul. Segundo Diane, o empreendedorismo comunitário sul-africano vivencia um momento parecido com as cadeias produtivas na Amazônia.
“Há similaridades em especial nos desafios que o empreendedorismo tem enfrentado em ambas as regiões. A inclusão econômica e o uso de tecnologia em comunidades de difícil acesso ainda são entraves para o desenvolvimento dos pequenos negócios”, destaca a pesquisadora.
Para a professora Silvia Pinheiro, o evento é uma oportunidade de discutir esses desafios comuns e principalmente ouvir quem está na ponta das cadeias produtivas. “Poder ouvir os empreendedores ribeirinhos é extremamente importante. Assim podemos compartilhar o conhecimento acadêmico de forma a contribuir de fato para promover arranjos comunitários mais sustentáveis e que alcancem novos mercados “, afirma.
Além delas, os empreendedores ribeirinhos Mailson Gondim, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Uacari, e José Maria Damasceno, da RDS Mamirauá, compartilharam suas experiências no trabalho com as cadeias de óleos vegetais e pirarucu, bem como os desafios de empreender no meio da floresta. Segundo Mailson, as discussões entre diversos atores envolvidos nas cadeias produtivas permitiu dar um novo olhar para o trabalho realizado na Reserva.
A troca de ideias com a profa. Diane, por exemplo, trouxe até soluções para a coleta de sementes. “O murumuru é uma semente que usamos bastante, mas temos dificuldade em coletar porque quando o fruto cai no chão, alguns animais furam a casca para se alimentarem e danificam a semente. A professora Diane sugeriu colocarmos uma rede para coletar o fruto antes de cair no chão. Ã? uma tecnologia simples que não havíamos pensado”, conta.
Nesse contexto, a pesquisadora Diane Holt destacou a importância de se observar as peculiaridades de cada região na implementação de novas tecnologias.
“Presumimos que o que se usa num lugar pode ser importado para outro sem alterações, mas precisamos ter um entendimento do que acontece em cada contexto. Os desafios podem ser parecidos mas precisamos levar em conta as diferenças geográficas e culturais de cada região”, afirma.
Ainda assim, ela acredita que devemos aproveitar os o que temos disponível como aprendizado de outras regiões: “Principalmente se considerarmos que ambas são regiões que começam a sofrer os efeitos das mudanças climáticas, o que gera impacto direto na produção natural, seja nos rios ou nas florestas”, conclui.