Coleta de sementes com a técnica do rapel é pioneira na RDS do Juma
15/11/2009
Por Monick Maciel
Sementes coletadas no dossel das árvores, através da técnica do rapel, têm melhor qualidade e podem significar uma renda extra para os comunitários que vivem nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS´s) do Amazonas. A iniciativa pioneira foi iniciada, em setembro, na RDS do Juma, no município de Novo Aripuanã (a 227 quilômetros de Manaus), onde comunitários estão sendo treinados para exercer a técnica.
O treinamento iniciou por meio de uma parceria entre a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com a equipe do PhD Manuel de Jesus. O coordenador da FAS da Regional Madeira, Mauro Cristo, explica que o projeto piloto é composto por comunitários que se tornam aptos a coletar e manejar as sementes nativas.
No curso, os comunitários aprendem a técnica do rapel, identificação de árvores, matrizes, pré-seleção de sementes e técnicas de armazenamento. Na reserva do Juma, já foi aprovada a construção de um Centro de Pré-Beneficiamento de Sementes.
“Queremos fazer os comunitários reconhecerem que a floresta pode oferecer bem mais do que madeira. A floresta tem sementes que podem ter um preço bom, desde que sejam coletadas de forma correta, e podem ser usadas para recuperação de áreas degradadas”, afirma o coordenador da Regional Madeira, acrescentando que o trabalho que hoje é realizado na reserva do Juma será levado para outras reservas estaduais onde a FAS atua.
O treinamento é ministrado pelo técnico em agroecologia da FAS, o engenheiro agrônomo Hélcio Honorato. Segundo ele, o objetivo é que esse grupo de coletores crie uma associação que será responsável pela comercialização das sementes, em convênio com a Ufam. “Vamos fazer a coleta, a pré-seleção, e enviar para o Centro de Sementes da Amazônia da Ufam, em Manaus, para que este órgão possa atestar o potencial de germinação, viabilidade e fitosanidade das sementes”, diz Honorato.
Ele lembra que para se fazer análise de sementes com potencial comercial, o laboratório precisa ser credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A legislação brasileira exige também que as mudas para recuperação de áreas degradadas tenham origem genética identificada e georeferenciada.
Hélcio Honorato, que é um dos cinco técnicos no Amazonas apto a formar monitores com essa nova técnica, explica que no Brasil há demanda por sementes com essas características, principalmente por parte das empresas que precisam fazer reflorestamento, porém a oferta é inexistente. Para a FAS, o sucesso do projeto representará um apoio importante à cadeia de produtos florestais.
“A qualidade do fruto com a coleta no dossel das árvores é maior, porque essa coleta resulta em sementes com um maior potencial de germinação, viabilidade, entre outras qualidades. Isso acontece por causa do não impacto resultante da queda, e a não absorção da umidade do solo, que inicia o processo de germinação”, ressalta Honorato. Ele afirma que o comprador não procura por sementes já germinadas, pois prefere que esse processo seja iniciado no ambiente no qual a semente será plantada.
Até o primeiro semestre de 2010, após a criação de uma associação dos coletores de sementes do Amazonas, o comércio de sementes deverá ser iniciado, estima Honorato. O projeto estima formar pelo uns 30 coletores por RDS, porém o número pode ser elevado, dependendo da demanda.