Curso sobre práticas no parto humanizado une conhecimento de parteiras tradicionais e profissionais da saúde
Parteiras tradicionais, obstetras, auxiliares e técnicas de enfermagem tiveram a oportunidade de agregar conhecimento aos seus trabalhos e trocar experiências da profissão.
31/10/2021
Unificar o conhecimento de parteiras tradicionais com técnicas científicas foi um dos objetivos do curso “Boas Práticas ao Parto Humanizado”, realizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com o apoio do Instituto Mamirauá, do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM) e da Associação das Parteiras Tradicionais do Estado do Amazonas Algodão Roxo (APTAM). A atividade foi promovida, em outubro, no prédio do CETAM em Tefé (distante 522 quilômetros de Manaus), e recebeu financiamento da empresa JBS.
O curso reuniu, pela primeira vez, parteiras tradicionais e obstetras, auxiliares e técnicas de enfermagem que atuam em hospitais, no primeiro encontro pós período crítico da pandemia, na região de Tefé. No total, participaram 25 mulheres que tiveram a oportunidade de agregar conhecimento ao seu trabalho e trocar experiências da profissão.
A FAS atua na região com o Programa Saúde na Floresta (PSF) e se uniu ao Instituto Mamirauá, que trabalha com parteiras locais, e ao CETAM, que proporcionou a parte metodológica do curso para realizar a interação entre as categorias. Durante os três dias de encontro, que totalizaram 20 horas de aprendizado, o foco principal foi o de unir os diferentes saberes para oferecer melhores condições à saúde da mulher em comunidades ribeirinhas da Amazônia, tornando os atendimentos cada vez mais humanizados.
A analista da Primeira Infância do Programa Saúde na Floresta da FAS, Francinete Lima, explica que a realização do curso, ministrado pela professora do CETAM e enfermeira, Jucimery Silva, foi toda pensada para atender aos dois grupos, respeitando os métodos de trabalho e as experiências de cada um.
A Associação Algodão Roxo, que atua pela valorização dos conhecimentos tradicionais das parteiras, também se uniu para realizar o curso, que proporcionou o encontro de mulheres de diversas comunidades. Uma delas foi a presidente da APTAM, Tabita dos Santos Moraes, moradora da comunidade Deus é Pai, que viajou por horas pelo Rio Tefé para participar da ação. A presidente da associação, cujo nome provém de uma planta medicinal usada na assistência a gestantes, o algodão roxo, é parteira tradicional há 30 anos e destaca no curso a oportunidade de agregar conhecimentos.
“Com a minha participação, espero aprender a lidar com situações difíceis e repassar [ensinamentos], tanto para as parteiras que fazem parte da Associação, quanto para as que estão próximas de mim, para que possamos melhorar no atendimento, com atenção a detalhes, exames a serem feitos e cuidados com nós, profissionais, também”, explica.
Francinete Lima avalia a realização do curso de maneira positiva, visto que possibilitou agregar conhecimentos em prol da saúde das mulheres nas comunidades. “Dentro dos projetos da FAS, buscamos sempre criar ações para melhorar a qualidade de vida das comunidades. Com esse curso, nós buscamos o fortalecimento das categorias que realizam um trabalho de extrema importância e que precisam dialogar juntas. Acreditamos que essa união é extremamente benéfica para todos”, explica.
O consultor do Programa Saúde na Floresta da FAS, Francisco Menezes, ressalta que as diferentes formas de realizar o parto e de atender as mulheres não deve separar, mas sim unir. “Foi muito interessante ver, no decorrer do curso, a quebra de barreiras, com momentos de escuta e reflexão e, a partir daí, acontecer a interação entre parteiras e a enfermagem, com cada uma se colocando no lugar da outra e se entendendo como profissional, que era o que queríamos”, conta.
“Para isso, buscamos mostrar que o processo de trabalho é o mesmo, mudando apenas os ambientes, as tecnologias e os conhecimentos utilizados. E o mais importante: destacamos que, quando somadas, essas diferenças produzem um fruto muito importante para a sociedade”, explica.
Programa Saúde na Floresta (PSF)
Durante as atividades de combate à Covid-19 no Amazonas, ficaram evidentes os inúmeros problemas relacionados ao atendimento na atenção básica de saúde, principalmente no interior e em comunidades distantes. Diante disso, a FAS iniciou as articulações para criar o Programa Saúde na Floresta (PSF). A iniciativa envolve uma série de ações visando melhorar o atendimento em saúde, com atenção à qualidade de vida e bem-estar de indígenas e ribeirinhos. A partir de um sistema de saúde conectado às suas especificidades e necessidades, o PSF auxilia no aprimoramento das políticas públicas de saúde em populações tradicionais e povos indígenas do Amazonas.
Entre os eixos de atuação do programa, cinco se destacam: telessaúde, com a instalação de pontos de internet para atendimento online, capacitação de agentes comunitários e outros profissionais da saúde, viabilização do transporte de urgência e emergência através de ambulanchas e canoas, formação de agentes comunitários para assistência integral na Primeira Infância, crianças de 0 a seis anos, e pesquisas em saúde para gerar propostas de melhorias para as comunidades e aldeias.