Jovens diminuem impacto ambiental de 286 quilos de plástico que seriam jogados em rios do Amazonas
05/11/2019
Projeto Escola D’Água, uma parceria da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) com a empresa austríaca Swarovski, trabalha com mobilizações, ações educativas e mutirões de limpeza em toda a região.
O grupo Guardiões das Águas do Purus se mobilizou e nos últimos cinco meses coletaram 286 quilos de plásticos de comunidades ribeirinhas situadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçú Purus, entre os municípios de Beruri e Tapauá, no baixo Purus. Todo o resíduo coletado foi usado para produzir “plastijolos”, uma tecnologia que permite compactar plásticos como garrafa pet até gerar um bloco que pode ser usado na construção civil em substituição ao tijolo comum e que tem mais durabilidade.
Iniciado em 2018 por meio do projeto Escola D’Água, uma parceria da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) com a empresa austríaca Swarovski, os Guardiães das Águas do Purus são um grupo formado por jovens ribeirinhos da RDS Piagaçú Purus que trabalham com mobilizações, ações educativas e mutirões de limpeza em toda a região. A ação dos jovens integra o movimento internacional “Ecobricks”.
Integrante da rede mundial Swarovski Water School, o grupo se divide em nove comunidades com o foco principal em diminuir a quantidade de resíduos sólidos, principalmente de plástico, descartados incorretamente nas comunidades e também evitando a incineração desse lixo. Como as comunidades não têm acesso a coleta ou programa de destinação do lixo, a queima desses objetos é a principal alternativa dos comunitários para lidar com os resíduos, o que acaba liberando gases tóxicos nocivos à saúde.
Resíduos e saneamento
Segundo dados do Banco Mundial, mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartados anualmente de forma irregular no Brasil em lixões a céu aberto, tornando o país o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo. Além disso, 40% de todo o plástico produzido mundialmente é incinerado, uma das principais causadoras da poluição do ar.
Outro destino comum dado aos resíduos descartados são os próprios rios e lagos da região que banham as comunidades, dos quais elas mesmos dependem diretamente para uso doméstico. As localidades também não possuem saneamento básico e todo o esgoto das residências é despejado diretamente nos cursos d’água, poluindo até lençóis freáticos. O problema compromete a qualidade da água consumida pelos moradores e causa doenças como surtos de diarreia e micoses.
Lixo jogado dos barcos
Além disso, outra situação comum que indigna os jovens participantes do grupo Guardiões das Águas do Purus são as práticas de alguns barcos de linha que passam na região, onde os tripulantes jogam para fora das embarcações sacos de lixo em frente às comunidades. Sem acesso à comunicação, os ribeirinhos enfrentam outra dificuldade: como denunciar o problema. Para isso, o grupo organizou um abaixo-assinado das comunidades para entregar às autoridades responsáveis e exigir uma solução como a mudança dos hábitos dos barqueiros.
“Mesmo a gente vendo eles jogando e falando diretamente com os responsáveis, não conseguimos fazer eles pararem por não termos nenhum documento. Agora com o abaixo assinado conseguiremos mostrar para eles que é proibido jogar lixo nos nossos rios”, conta Rayane Miranda, 17 anos,guardiã da comunidade Santa Luzia do Jari. A entrega do abaixo-assinado para a Secretaria Municipal de Limpeza e do Meio Ambiente de Beruri é um marco legal para as comunidades.
Conscientização e manifesto
Para dar a destinação correta ao lixo das comunidades os jovens guardiões enfrentam outro entrave: a descrença de parte dos moradores que ainda acreditam que poluir não é um problema, fruto da baixa conscientização sobre a gravidade e as consequências do lixo.
A partir daí, os jovens se reuniram e criaram um manifesto para pressionar a todos na busca por uma solução: o poder público em geral, a prefeitura, a Secretaria de Meio Ambiente e de Educação, além de toda a população. No manifesto, os jovens relatam a própria realidade e reivindicam direitos básicos, além de fazer um alerta direto sobre poluição e acúmulo de resíduos, um problema global.
“O processo de fazer os plastijolos está sendo muito gratificante porque estamos dando um destino correto ao nosso plástico. A gente está trabalhando junto pela nossa comunidade e está sendo muito bom”, diz Everton Soares, de 17 anos, guardião da comunidade Arumã.
Festival das Águas
Com objetivo de apresentar as próprias preocupações quanto ao lixo nos rios, os jovens Guardiões das Águas do Purus realizaram no último fim de semana, cidade de Beruri, o Festival das Águas, onde mostraram um pouco das inovações desenvolvidas nas comunidades para cuidado com o lixo, como biodigestor, banheiro seco, produtos naturais e plastijolo, além da entrega do abaixo-assinado dos moradores e o manifesto ao Secretário de Meio Ambiente Limpeza Pública Municipal, Pedro Picansso, que se comprometeu a dar assistências às comunidades e notificou as embarcações sobre a prática de jogar lixo nos rios.
O Festival busca conscientizar a população e incentivar novas práticas na cidade, ensinando a zona urbana a tomar maior cuidado com a água, o lixo e o meio ambiente. “Daqui há dez anos não queremos ver lixo nos rios, não queremos seguir os exemplos das cidades, queremos nossas comunidades preservadas e com mais consciência ambiental, com pessoas mais envolvidas. Somos os agentes de transformação da nossa região. Somente juntos podemos transformar o mundo”, diz trecho do manifesto.
Durante o festival aconteceram atividades educativas sobre a água, cinema, experiência em realidade virtual, exposição fotográfica sobre o projeto e amostra das inovações que vem sendo feita nas comunidades, parte da estutura do festival foi feita com plastijolos para mostar a aplicação dos mesmos na prática. 250 pessoas participaram do festival.
Projeto Escolas D’Água
O projeto Escola D’Água Swarovski é uma iniciativa da empresa Swarovski que busca preparar crianças e adolescentes de novas gerações para compreender a prática do uso sustentável da água. Com uma metodologia de educação experimental e alcance internacional, o projeto está presente em escolas próximas a grandes rios em cinco países: Áustria, Brasil, China, Índia e Uganda.
A metodologia do projeto é adaptada de acordo com a realidade e as necessidades de cada país e região. No Brasil, o projeto é executado nas regiões de Santarém, no Pará, e em Beruri e Tapauá, no Amazonas, especificamente na RDS Piagaçu Purus, em parceria da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), onde percorre nove escolas das comunidades ao longo do rio Purus.