Diálogo entre instituições e crenças pela conservação da Amazônia é resultado de seminário sobre Sínodo do Vaticano, em Manaus - FAS - Fundação Amazônia Sustentável
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Diálogo entre instituições e crenças pela conservação da Amazônia é resultado de seminário sobre Sínodo do Vaticano, em Manaus

Diálogo entre instituições e crenças pela conservação da Amazônia é resultado de seminário sobre Sínodo do Vaticano, em Manaus
março 8, 2019 FAS

Diálogo entre instituições e crenças pela conservação da Amazônia é resultado de seminário sobre Sínodo do Vaticano, em Manaus

08/03/2019

A necessidade de criar e ampliar os espaços de diálogo em favor da natureza e dos povos tradicionais na região amazônica foi uma das principais conclusões do segundo dia do “Seminário Sínodo da Amazônia: contribuições a partir do desenvolvimento sustentável”, evento com objetivo reunir as principais demandas da região a serem apresentadas à Igreja Católica durante o sínodo dos bispos sobre a Amazônia, previsto para acontecer em outubro.
Realizado pela Arquidiocese de Manaus, integrante da Rede Eclesial Pan-Amazônica, o segundo dia do seminário aconteceu na sede da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), em Manaus, parceira do evento, com apoio da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN) e Instituto Clima e Sociedade (ICS).
Indígenas, ribeirinhos, militares, parlamentares e representantes de instituições científicas, governamentais e não-governamentais debateram e elencaram as necessidades urgentes para conservar a Amazônia e os caminhos da Igreja Católica para evangelização. Os participantes se dividiram em grupos de trabalho e apontaram os pontos cruciais em sete temas: proteção dos rios e lagos; desmatamento e degradação florestal; grandes obras e infraestrutura; mudanças climáticas e impacto econômico; defesa dos territórios indígenas; tráfico de pessoas, abusos contra mulheres e crianças e a prostituição; e espiritualidade & cultivo de virtudes.
A temática de proteção de rios e lagos focou numa proposta de desenvolver de forma sustentável a Amazônia a partir da convergência de forças entre as comunidades tradicionais, as instituições e a Igreja Católica, e ressaltou a necessidade de manutenção de um canal de diálogo, ampliação desses espaços e fortalecimento de campanhas de proteção dos rios e lagos. No ponto sobre desmatamento e degradação florestal, os participantes citaram a importância das políticas públicas, pesquisas e produtos florestais e um “engajamento ecológico” que deve ser trabalhado pela Igreja Católica dentro de seus espaços, bem como a aproximação dos órgãos com as populações tradicionais e as campanhas de conscientização e sensibilização social.

Grandes obras em pauta

Dentro do tema sobre as grandes obras e infraestrutura foi debatida a necessidade de promover tecnologias que propiciem às populações tradicionais acesso à energia elétrica, água, esgoto e transporte compatíveis com a preservação do meio ambiente, além de estudos de viabilidade de grandes projetos e a interlocução e o diálogo entre lideranças durante a proposição de grandes obras. O papel do poder público na execução de grandes obras, como a construção rodovia BR-319, estrada que passa por regiões importantes para manutenção da floresta em pé também foi debatido.
Sobre mudanças climáticas e impacto econômico, os participantes colocaram a Igreja Católica como instituição estratégica para transformar e impulsionar ações de combate ao aquecimento global, além da importância de difundir tecnologias voltadas ao desenvolvimento sustentável.
“Ficou muito claro que é possível e necessário desenvolvermos uma economia de baixo carbono na Amazônia, e que há essa vontade de fazer isso acontecer. As discussões sobre o sínodo abrem essa oportunidade de integrarmos as agendas e tornar os seus desdobramentos uma chance de agirmos em prol da transformação”, enfatizou Alice Amorim, coordenadora de política e engajamento do Instituto Clima e Sociedade (ICS).
As demandas sobre a defesa dos territórios indígenas, onde foram denunciadas as diversas violências a que os povos indígenas sofrem atualmente na Amazônia, como assédios, caça a direitos, demonização da cultura e etnias e mortandade durante disputa por terras e grilagem na região também estiveram na pauta.
Como caminhos para superar esses desafios, os participantes demandaram a construção de uma rede de apoio em defesa dos povos indígenas para além do diálogo já existente entre instituições atuais, a necessidade de campanhas educativas na sociedade, a garantia do cumprimento de políticas públicas e a defesa dos territórios e regularização deles.
“A mensagem do evento foi algo muito rico: a sociedade sendo ouvida por mais do que instituição religiosa, e reconhecendo as diferentes vozes, dos manauaras, brasileiros, das organizações e do meu povo, para que possamos fazer justiça com com cumprimento das políticas públicas e defesa dos territórios que são nossos por direito”, declarou Milena Marulanda Kukamiria, indígena kokama do Alto Solimões, representando  o Fórum de Educação e Saúde Indígena do Estado do Amazonas.
Ao final, um grande encontro entre instituições e religiosidade encerrou o debate. A convergência e o clima amistoso entre as crenças e instituições foi um dos legados do evento. O arcebispo militar, Dom Fernando Guimarães, fez questão de ressaltar o papel agregador do Exército Brasileiro e o interesse em contribuir ativamente nas discussões, como mão amiga da Amazônia.
“O sínodo da Amazônia tem duas dimensões, uma dimensão eclesial, o que a igreja irá fazer para sua missão de igreja, os caminhos para a evangelização etc, e uma dimensão social, de melhoria da qualidade de vida, de ajuda às populações. Essa segunda parte é que toca o Exército Brasileiro, que nos faz interessarmos em contribuir, ajudar e construir uma Amazônia sustentável e que valorize os povos tradicionais”, enfatizou do arcebispo militar.
O monsenhor Marcelo Sorondo, chefe da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, enfatizou o caráter ecumênico da discussão do sínodo.
“A Encíclica do Papa Francisco fala sobre o planeta, mas é uma encíclica social. Toda essa mobilização pela Amazônia faz parte de um espírito intereligioso e ecumênico para falar sobre o espírito do planeta, que é o espírito das pessoas”, declarou.
“A Amazônia não é uma questão da igreja, é uma questão do Brasil, do planeta. Independente de nossas origens e propostas, é preciso levar em consideração todas as contribuições, e um dos frutos mais importantes desse evento é consolidar o diálogo entre os diferentes atores que interagem pela região”, enfatizou o arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Repam, Dom Cláudio Hummes.

Próximos passos

O resultado das discussões comporão uma publicação, contendo apresentações, os relatórios dos Grupos de Trabalho e temas para aprofundamento das discussões até outubro, quando os bispos se reúnem no Vaticano. Um documento síntese conterá as agendas de debates relacionadas ao sínodo, junto com encaminhamentos para ações da sociedade civil e governos nacionais e subnacionais, explica o superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana
“O evento foi uma oportunidade ímpar de aproximar diferentes segmentos da sociedade do Amazonas, da Amazônia e do Brasil, com aquilo que é a principal oportunidade para impulsionarmos o desenvolvimento sustentável da região. Os documentos serão compartilhados com a igreja e com todos os participantes, para continuar os debates e as discussões sobre como fazer como a região seja apenas não apenas bem cuidada para as pessoas que moram aqui, mas também para o Brasil e mundo”, encerrou o superintendente.
Os vídeos, com todas as apresentações e debates estarão disponíveis em breve no site e canais de mídias sociais (Facebook e Youtube) da FAS e da Arquidiocese de Manaus.