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Seca no Amazonas: os impactos na população ribeirinha

Por Ademar Cruz é Coordenador de Articulação Institucional da FAS

A forte seca no Amazonas de 2023 já é considerada a pior seca registrada em 121 anos. Desde que começou, essa seca histórica já afetou mais de 600 mil pessoas e 150 mil famílias. A situação é tão grave que todos os 62 municípios do estado estão em situação de emergência ou estado de atenção, de acordo com o boletim divulgado pela Defesa Civil do Amazonas no último dia 26 de outubro.

A estiagem no Amazonas é uma situação muito delicada, que impacta muitos setores no estado, incluindo até mesmo empresas do Polo Industrial de Manaus. Contudo, os impactos são mais fortes principalmente no cotidiano das comunidades ribeirinhas, que enfrentam uma situação muito complicada.

Impactos da seca na população ribeirinha

Aqui na Fundação Amazônia Sustentável (FAS), a gente enxerga, vivencia, escuta e conversa com os líderes comunitários das populações ribeirinhas, que relatam que a seca no Amazonas tem agravado a sua vida não só na economia, mas também na convivência social e na sua sobrevivência de modo geral. Por quê? Porque à medida que o rio seca, os ribeirinhos ficam muito distantes para acessar seu principal meio de transporte, que é o rio. O rio não dá mais espaço para eles navegarem, e, portanto, eles ficam isolados para sair para outros lugares. 

Outro impacto é a questão da água, que traz para essas comunidades um prejuízo enorme na sua agricultura e no abastecimento de água para suas próprias casas. A água que resta nesses lugares é uma água poluída, sem condição nenhuma para consumo. Às vezes, as pessoas estão vivendo até mesmo na beira de rios e lagos, mas essas regiões estão somente com água poluída por conta da seca. Por isso, as comunidades passam por uma dificuldade de ter acesso a uma água de qualidade e, muitas vezes, até a qualquer tipo de água.

Muitas comunidades que são baseadas na atividade de pesca também são afetadas pela temperatura da água, que mata os peixes. Isso se desdobra ainda em outros impactos: primeiro, os peixes mortos apodrecem e pioram ainda mais a qualidade da água. Segundo, quando passar esse momento de seca, não haverá peixe para essas famílias que pescam para se alimentar ou para fazer a venda dos seus pescados, uma vez que os peixes já morreram agora na época da seca.  

Há ainda uma gama de outros problemas, como, por exemplo, na agricultura. Ainda como efeito da seca, tem aparecido pragas que trazem prejuízo para os agricultores, como uma lagarta que está comendo a plantação de mandioca de algumas dessas comunidades, impactando assim a economia e o futuro dessas famílias. 

Aliança Amazônia Clima e o futuro

Portanto, a seca no Amazonas traz para nós duas fotografias: o agora, que é o que a gente está vendo aí, em um cenário preocupante de seca, queimada e fumaça; e também o futuro, com problemas de médio a longo prazo, afetando a economia e, principalmente, a vida dessas pessoas.

Pensando nisso, a FAS trouxe a proposta de juntar várias empresas, parceiros e organizações para buscar uma solução para esse problema, por meio da Aliança Amazônia Clima. Através dessa aliança de diversos setores, queremos discutir projetos e ações que amenizem um pouco o sofrimento das populações afetadas pela seca e que sofrem o que se chama de injustiça climática – ou seja, são pessoas que sofrem um impacto mais forte do que quem efetivamente poluiu mais e contribuiu mais para que o planeta esteja mais quente. 

Nesse cenário de seca no Amazonas, a Aliança Amazônia Clima tem atuado de maneira emergencial para atender a essas populações: temos levado água potável, alimentos, itens de higiene básica, medicamentos, entre outros materiais. A Aliança segue arrecadando doações de itens e recursos financeiros para levar apoio a essas comunidades e, para isso, contamos com o apoio de todos. Saiba mais aqui.

Amazônia e a crise climática

Além disso, a médio prazo, precisamos discutir um projeto estruturado para que as comunidades ribeirinhas possam se preparar e se adaptar ao cenário de mudanças climáticas e possíveis secas e cheias históricas.  

Por isso, é essencial trabalhar junto a essas populações e garantir o acesso a necessidades básicas, como energia, conectividade e água potável. Para tanto, a Aliança está mapeando as comunidades e olhando para essas necessidades a curto, médio e longo prazo, pensando no futuro das populações ribeirinhas. O futuro da Amazônia e de suas populações está nas mãos de todos.