Reportagem Manejo Sustentável de Pesca - FAS - Fundação Amazônia Sustentável
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Reportagem Manejo Sustentável de Pesca

Com o apoio da FAS à cadeia produtiva do manejo sustentável de pesca, a renda média familiar de pescadores na Amazônia aumentou 66% em 5 anos (2016- 2020)

De protagonista da fauna aquática da Amazônia, há poucos anos o pirarucu se tornara uma presença rara nos rios e lagos da região, efeito da pesca predatória desenfreada. “Não tinha mesmo, de verdade, você ia no lago e se visse dois ou três pirarucus era muito”, lembra Raimundo Gomes, morador da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, no estado do Amazonas. A parceria bem-sucedida entre saberes tradicionais e a ciência salvou o pirarucu da extinção local e, através do manejo sustentável da espécie, garantiu segurança alimentar e fonte de renda para as populações locais. 

A pesca sustentável do pirarucu tem o incentivo da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que oferece a comunidades locais assessoria técnica e suporte de infraestrutura para a prática do manejo. Entre 2016 e 2020, pescadores de projetos manejadores sustentável apoiados pela FAS tiveram um aumento de renda de 66%, com uma renda média de R$ 2.349,57. 

“’Guardamos o lago, aí de uns 3 anos em diante já apareceu a renda do pirarucu”, conta Raimundo. “A primeira contagem que nós fizemos deu duzentos e setenta pirarucus grandes e, graças a Deus, desde lá foi aumentando o produto dos lagos, a renda”. 

O Gigante da Amazônia: Manejo do Pirarucu | Episódio 1

O pirarucu é um gigante das águas doces: um exemplar pode atingir até 3 metros de comprimento e pesar 200 quilos. Manejar essa espécie colossal é um trabalho coletivo que requer tempo, preparo e organização, envolvendo comunidades inteiras em Unidades de Conservação (UCs), onde a pesca é legalizada e regulada pelos órgãos ambientais responsáveis. Entre os processos de defesa e vigilância dos lagos, onde ocorre a reprodução dos peixes, contagem, pesca, o beneficiamento e comercialização, milhares de pessoas integram essa cadeia produtiva nativa da Amazônia. 

Homem carregando um peixe nativo da Amazônia, chamado Pirarucu.
Foto: Rodolfo Pongelupe

Para viabilizar as etapas do manejo, a FAS investe em equipamentos de pesca, transporte fluvial, rádio comunicação e bases flutuantes, estruturas que dão suporte à fiscalização dos lagos. “Para mim, a FAS foi uma excelente ajudadora nossa, porque primeiro quando a gente veio aqui, vigiar, nós morávamos dentro da canoa e hoje nós temos esse flutuante, tem um barco onde a gente encosta aqui (no lago). Nós vínhamos nas canoinhas de lá (na comunidade) pra cá no lago”, conta Antônio Ferreira, pescador da Comunidade Batalha, localizada na RDS Mamirauá. 

“A partir que esses grupos de pescadores assumem essa etapa de proteção e vigilância, que estão ocupando o território, eles estão fazendo gestão territorial dos seus espaços, em um dos melhores exemplos de conservação, geração de renda e valorização das pessoas que estão na floresta”, afirma Marcelo Castro, coordenador de Gestão de Conhecimento FAS. 

Como parte da estratégia de valorização da cadeia produtiva do pescado, desde 2014 a FAS promove feiras de comercialização do pirarucu em Manaus, capital do estado do Amazonas. Realizadas periodicamente, as feiras são um momento de contato direto entre os manejadores e o público consumidor, que podem conhecer o trabalho envolvido na pesca e conservação do peixe.  

Apenas em 2022, a FAS apoiou a comercialização de 105 toneladas de pirarucu, gerando um faturamento bruto de R$ 1.083 milhão. Mais de 25 toneladas do pescado foram vendidas em feiras do pirarucu realizadas em Manaus. A comercialização é autorizada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema/AM), com apoio da Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror) e financiamento do Fundo Amazônia e do Bradesco. 

“Quando esse produtor chega aqui em Manaus e consegue conversar diretamente com o consumidor final, ele conta a história de como é feito o manejo. A esse produto está sendo agregado um valor, porque não está se vendendo um quilo de pirarucu qualquer, está se vendendo uma história, está se vendendo um trabalho de conservação e manutenção da biodiversidade dentro dessas Unidades de Conservação”, explica Edvaldo Correa, coordenador do Programa Floresta em Pé da FAS. 

Homem fazendo o corte do pirarucu durante Feira da FAS, realizada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) em parceria com a Associação dos Moradores e Usuários da RDS Mamirauá Antônio Martins (Amurman).

Vistosa e maleável, a pele do pirarucu também se transformou em um ótimo negócio para os manejadores. Através da parceria entre FAS e a empresa têxtil Nova Kaeru, a pele que vem do manejo sustentável da Reserva Mamirauá é comercializada, transformada em couro, e foi parar no catálogo de marcas internacionais, como a Louis Vuitton.  

Bolsas e sapatos, entre outras peças, estampam as escamas avermelhadas do pirarucu que, somente entre 2018 e 2022, renderam à Associação dos Moradores e Usuários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá Antônio Martins (Amurman) milhares de reais em vendas. A FAS apoia a venda e produção orgânica da pele de pirarucu e oferece ao grupo, entre outras ações, orientação comercial e financeira e oficinas para retirada, logística, congelamento e armazenamento adequado das peles.   

“A FAS é uma parceira muito boa para nós, pois trouxe essa parceria para a venda do pirarucu e da pele. É um recurso importante, que está garantindo sustentabilidade para as famílias de pescadores e de manejadores que vivem da pesca. É um privilégio para nós, um benefício muito grande”, afirma Maria do Rosário, moradora da comunidade Nova Esperança da RDS Mamirauá. 

Em busca do preço justo para o pirarucu manejado e da geração de renda para os produtores, a FAS investe ainda em cursos de capacitação de pescadores e projetos, a exemplo da instalação de unidades de armazenamento nas regiões de manejo.  

Homem que faz parte da equipe de manejo sustentável de pirarucu, apoiado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
Foto: Rodolfo Pongelupe

“O manejo se desenvolveu muito com o passar dos anos e melhorou bastante. Espero que meus irmãos e primos vejam isso como renda pra frente. Eles têm os pais deles como espelho para seguir aquilo adiante, o que o pai deixou pra eles, ter isso aqui como propriedade deles. E que eles lutem por isso, como eu também. Eu vivo disso e luto por isso”. 

Joilson de Souza, manejador de pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM) 

Leia o estudo Apoiando a Pesca de Pirarucu como Negócio na Amazônia, uma parceria da FAS com a Universidade de Notre Dame: