Rota da Saúde Indígena vence Prêmio SDSN Amazônia 2020 - FAS - Fundação Amazônia Sustentável
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Rota da Saúde Indígena vence Prêmio SDSN Amazônia 2020

Rota da Saúde Indígena vence Prêmio SDSN Amazônia 2020
agosto 7, 2020 FAS

Rota da Saúde Indígena vence Prêmio SDSN Amazônia 2020

SDSN Amazônia realizou evento virtual para premiar, com um total de US$ 3,5 mil, as três melhores iniciativas de enfrentamento à Covid-19 na região

07/08/2020
Liderança indígena falando em evento.

O desafio de oferecer uma resposta integral à Covid-19 na Amazônia, focada em solucionar problemáticas de acesso à saúde enfrentadas pela população indígena da região, motivou a criação da “Rota da Saúde Indígena da Amazônia”, uma iniciativa da organização Hivos, por meio do programa Todos os Olhos na Amazônia (TOA). A solução foi anunciada, nesta quinta-feira (6), como a grande vencedora do Prêmio SDSN Amazônia 2020, promovido pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia).

O anúncio ocorreu durante um evento virtual, que reuniu representantes de universidades, centros de pesquisa e organizações da sociedade civil do Brasil, Equador e Peru. Ao todo, 11 projetos concorreram à premiação, lançada em maio deste ano, em parceria com a Fundação Amazonas Sustentável (FAS), a Agência de Cooperação Alemã (GIZ) e o Instituto Amigos da Amazônia (iAMA), com o tema “Soluções sustentáveis para enfrentar à COVID-19 na Amazônia”.

“Esse tema é muito relevante, dado o contexto da pandemia que enfrentamos na Amazônia. A nossa preocupação maior é com o impacto da Covid-19 nas comunidades e aldeias da Amazônia profunda, onde o sistema de saúde é extremamente precário, mas também com as áreas urbanas onde está concentrada a maior parte da população”, destacou o superintendente geral da FAS, Virgilio Viana, na abertura da premiação.

Os três primeiros colocados receberam prêmios em dinheiro: o primeiro lugar ganhou 2 mil dólares, o segundo lugar recebeu mil dólares e o terceiro colocado 500 dólares.

Rota da Saúde

Solução classificada em primeiro lugar, a Rota da Saúde Indígena da Amazônia visa contribuir para reduzir a lacuna no acesso aos serviços de saúde na região, através da construção de um modelo de gestão passo a passo, operacionalmente aplicável em duas dimensões: a partir do sistema de saúde e das realidades culturais das comunidades indígenas.

A rota é estabelecida em cooperação com o Ministério da Saúde Pública do Equador, com assessoria técnica da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e em coordenação com outras organizações da sociedade civil.  Para a pesquisa, a Hivos formou uma equipe técnica de profissionais nas áreas de medicina, antropologia, geografia e comunicação, que lidera o diálogo com representantes dos povos indígenas e comunidades locais dos territórios nos quais o programa Todos os Olhos na Amazônia é implementado.

O objetivo, segundo a organização, é que a iniciativa se torne um modelo de trabalho colaborativo entre a academia, a sociedade civil e o setor público para promover a efetivação do direito à saúde dos povos e nacionalidades indígenas do Equador, e que seja aplicável a outras doenças transmissíveis e enfermidades, contribuindo para a construção de um sistema de saúde inclusivo, focado nos indivíduos e povos amazônicos.

“Acreditamos que é algo inovador e que resolve problemas estruturais, não só necessidades imediatas, mas mudanças estratégicas para soberania indígena na saúde”, afirmou a diretora do programa Todos os Olhos na Amazônia, Carolina Zambrano.

Curso de Biocomércio

O segundo colocado no Prêmio SDSN Amazônia foi o projeto de criação de um curso superior de Biocomércio pela Universidade Regional Amazônica Ikiam, do Equador. A iniciativa, coordenada pelo professor e pesquisador Amr Radwan Ahmed Radwan, aposta no biocomércio para a geração de um modelo de desenvolvimento alternativo e sustentável para a Amazônia equatoriana, com base na conservação produtiva, permitindo a prosperidade econômica e a melhoria da qualidade de vida dos habitantes, além de evitar os impactos negativos ao meio ambiente, recursos da biodiversidade e contextos sociais.

Segundo Radwan, a solução também tem potencial para ajudar na recuperação da economia amazônica pós-Covid.  “Aonde seria mais relevante o biocomércio senão na Amazônia? Em primeiro lugar, porque é uma das regiões mais megabiodiversas à nível mundial. Porém, ao mesmo tempo, há um dilema enorme: uma região megabiodiversa, com uma riqueza natural e uma diversidade étnica, cultural e ambiental enorme, mas, ao mesmo tempo, com tanta prevalência de pobreza e um Índice de Desenvolvimento Humano muito baixo. E, com a crise da Covid-19, piorou bastante a situação. Então, o biocomércio representa uma alternativa de como podemos ter uma reativação econômica, ter prosperidade econômica, sem prejudicar o meio ambiente e os contextos sociais”, explicou.

Implementado em 2018, o curso é o único na América Latina e tem como proposta permitir que o aprendizado acadêmico realize processos de transformação e gere empreendimentos baseados em produtos nativos, que podem ser colocados no comércio local, nacional e internacional, a partir da sustentabilidade. “Não podemos apostar somente em conservação, sem levar em conta a qualidade de vida das comunidades, ou permitir qualquer tipo de desenvolvimento econômico em petróleo e mineração, sem levar em conta todo o impacto negativo que isso pode gerar ao meio ambiente e contextos sociais”, complementou o coordenador da iniciativa.

Além disso, o curso também busca melhorar o acesso dos habitantes da região, especialmente dos grupos mais vulneráveis, como comunidades indígenas, pessoas de baixa renda e mulheres, a um ensino universitário de excelência e totalmente de acordo com as particularidades da Amazônia.

Diagnóstico da Covid-19

Fechando a lista de vencedores do Prêmio SDSN Amazônia, em terceiro lugar ficou a proposta de padronização de técnicas moleculares para a detecção dos genes Sars-CoV2 E e RdRP em amostras clínicas com suspeita de Covid-19, também da Universidade Regional Amazônica Ikiam.

A solução se concentra no diagnóstico sem o uso de kits comerciais de alto custo, mas com a adaptação de protocolos tradicionais, que permite não apenas enfrentar a escassez de kits e reagentes para esse tipo de análise em todo o mundo, mas representa uma economia financeira considerável.

Segundo a responsável pelo projeto, Carolina Proaños, a iniciativa foi idealizada para solucionar problemáticas logísticas e econômicas relacionadas ao diagnóstico da Covid-19 na Amazônia equatoriana. “No Equador, na região amazônica, não contávamos com nenhum laboratório que tivesse a capacidade técnica de implementar esse tipo de diagnóstico. O que estavam fazendo todos os centros de saúde e hospitais da região amazônica era enviar as amostras para capital ou cidades maiores do país, para alcançar o diagnóstico. O sistema estava saturado, o tempo de resposta dos resultados chegava às vezes até 15 dias, então esse era um problema. Adicionalmente, o custo que implicava a logística do translado das amostras”, pontuou.

Atualmente, o Laboratório de Biologia Molecular e Bioquímica da Ikiam, dirigido por Carolina, é o único da Amazônia equatoriana credenciado para o diagnóstico molecular da doença. Já foram processadas mais de 2,8 mil amostras, das províncias Napo, Orellana e Pastaza. De acordo com a pesquisadora, a expectativa é incluir, no próximo mês, a província Sucumbíos, no norte da região amazônica, onde atuarão com foco na população indígena, em parceria com a Hivos.

O prêmio

Esta foi a terceira edição do Prêmio SDSN Amazônia, realizado anualmente para incentivar a inovação e reconhecer as melhores soluções socioambientais para enfrentar os problemas mais desafiadores para o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

A iniciativa foi aberta a ações realizadas e implementadas por organizações privadas, públicas, acadêmicas e do terceiro setor dos nove países da Bacia Amazônica: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

As propostas submetidas se enquadraram nas categorias: acesso à serviço de saúde, educação, alimentos, água potável e saneamento, trabalho decente e crescimento econômico, consumo e produção sustentável, além de ações para o período pós-Covid.

“O prêmio, na realidade, buscou não só o olhar para a Covid-19 em si, mas fundamentalmente as categorias que se sobrepõem, que interagem, que fazem uma interlocução com a questão da pandemia”, afirmou o presidente do Comitê Técnico-Científico da SDSN Amazônia e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Adalberto Luis Val.

Plataforma de Soluções

Os projetos mais relevantes que participaram do prêmio serão publicados na Plataforma de Soluções Sustentáveis da SDSN Amazônia, uma plataforma online, georreferenciada e trilíngue (português, espanhol e inglês) que tem como foco a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na Amazônia.

A ferramenta é um canal difusão de novas tecnologias, modelos de negócios e políticas que têm potencial impacto transformador no desenvolvimento sustentável da região. Atualmente, mais de 160 soluções estão cadastradas na plataforma.

Sobre a SDSN Amazônia

A SDSN Amazônia é uma rede que visa integrar os países da Bacia Amazônica, mobilizando universidades, organizações não governamentais, centros de pesquisa, instituições governamentais e privadas, organizações multilaterais e sociedade civil para promover a resolução prática de problemas para o desenvolvimento sustentável da região. A iniciativa faz parte da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN Global) e tem a secretaria executiva realizada pela FAS.

Confira o evento de premiação na íntegra aqui!