Saúde mental de comunidades da Amazônia é impactada durante a pandemia e instituições promovem atendimento psicológico online - FAS - Fundação Amazônia Sustentável
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Saúde mental de comunidades da Amazônia é impactada durante a pandemia e instituições promovem atendimento psicológico online

Saúde mental de comunidades da Amazônia é impactada durante a pandemia e instituições promovem atendimento psicológico online
outubro 13, 2020 FAS

Saúde mental de comunidades da Amazônia é impactada durante a pandemia e instituições promovem atendimento psicológico online

Terapia promove bem-estar e segurança em Três Unidos, comunidade situada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro/AM.

13/10/2020
Atendimento psicológico ocorrendo em comunidade ribeirinha durante o período de pandemia no Amazonas.

Foi-se o tempo em que manicômios eram a grande solução para o tratamento de saúde mental, assunto até então estigmatizado. Com quase 60 anos de existência no Brasil, a psicologia evoluiu e consolidou-se como uma profissão recomendada para qualquer um que busca se conhecer melhor ou resolver problemas pessoais, ainda mais em tempos de pandemia. Em Três Unidos/AM, comunidade situada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro, o acesso a esse tratamento virou realidade graças ao projeto liderado pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) com o apoio da Americanas, que conecta, via “teleatendimento”, profissional e paciente em uma consulta psicológica totalmente online por meio do Projeto Conectividade.

O Amazonas apresenta um dos maiores índices de casos confirmados de coronavírus em povos indígenas, segundo dados das autoridades estaduais de saúde. Localizada a 60 km de Manaus e às margens do rio Cuieiras, a comunidade Três Unidos, formada essencialmente por indígenas, não escapou dessas estatísticas e foi uma das primeiras da região a registrar infecções de Covid-19. Grande parte dos moradores, que têm no turismo um de seus pilares econômicos, adoeceram e precisaram de cuidados médicos.

As dores não foram apenas físicas. O isolamento, somado às perdas de entes queridos e à situação de fragilidade econômica, provocaram tristeza, angústia e ansiedade, além de sintomas relacionados à depressão e outras condições associadas à mente. Como a orientação era de não se deslocar para outras localidades próximas, a FAS preocupou-se em apoiar o fornecimento de um serviço remoto que atendesse a população de forma eficiente e acolhedora.

Dores da alma

O psicólogo voluntário da Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade (FUnATI), Ivo Jung, ficou responsável por realizar o teleatendimento, diretamente do Rio Grande do Sul, estado onde mora e atua profissionalmente. Durante um webinar promovido pela FAS, Jung afirmou que uma das primeiras preocupações surgidas no início dos contágios ocasionados pela pandemia foi uma possível intensificação de problemas ligados à saúde mental. “É algo que se agrava muito quando as pessoas estão em situações difíceis e, logicamente, quanto mais vulnerável é uma comunidade, mais esses problemas surgem”.

O desafio inicial, segundo ele, foi instruir agentes comunitários de saúde (ACS) sobre as melhores formas de tratar o assunto de saúde mental, uma preocupação que deve ser encarada como tão importante quanto as questões de ordem física. “É uma forma de ensinar a levar a sério esses problemas e eventualmente criar um filtro sobre quais pessoas precisam desse tipo de atendimento psicológico ou até mesmo psiquiátrico”. Para o psicólogo, “o projeto de telessaúde é uma ferramenta fantástica e deveria ser implementado no Brasil inteiro. O fato de poder, com uma quantidade menor de recursos e de profissionais, provocar mudanças significativas, é muito importante”.

Testado e aprovado

Assim que os primeiros casos de coronavírus começaram a surgir em Três Unidos, comunidade que conta com o apoio de um Núcleo de Conservação e Sustentabilidade da FAS, a dona de casa Sebastiana Diniz já sentia a necessidade de ajuda profissional, já que o abalo emocional se intensificou ainda mais quando comunidades vizinhas fecharam as portas.

“Eu estava muito deprimida, não conseguia dormir à noite pensando que as pessoas criticavam a gente por estar com essa doença; então eu ficava só dentro de casa, não queria falar com ninguém e não aceitava essa situação”, afirma Sebastiana, complementando que, após a consulta, a sensação foi de alívio e bem-estar. “Teve gente que me disse para não ir, falando que isso é só para quem tem necessidade especial, mas eu vi que não é bem assim. O psicólogo passa confiança para nós, porque aquilo que estamos conversando não vai sair dali”.

O acolhimento oferecido na comunidade mostrou-se crucial também para Marina Melquides Cruz, que se consultava pela primeira vez com um psicólogo. “Ele me ajudou a ter mais segurança comigo mesma. Eu falei para ele que tenho um filho que mora longe, conversamos muito e ele me garantiu que tudo ia dar certo, então achei que a conversa foi muito importante para esse momento”.

O psicólogo Ivo Jung alerta para o fato de que as particularidades de cada local precisam ser consideradas ao serem implementadas tais ações. “É necessário um cuidado muito grande para que não se invada a cultura de povos indígenas e de comunidades ribeirinhas, impondo o que habitantes dos centros urbanos consideram como ‘certo’. Nesse sentido, a FAS é uma grande tradutora e articuladora, de forma a realizar ações não-invasivas com muito respeito”.