Amazônia: os impactos das queimadas além dos números - Blog da FAS

Amazônia: os impactos das queimadas além dos números

Amazônia: os impactos das queimadas além dos números
13 de setembro de 2022 FAS FAS
Floresta pegando fogo.

A Amazônia requer atenção. Mês a mês, os altos índices de queimadas captados por organizações como Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) acendem os noticiários. Recentemente, apenas nos sete primeiros dias de setembro, os dados do programa Queimadas do INPE mostraram que os incêndios no bioma chegaram a 18.374 focos de calor. O número representa cerca de 1.700 queimadas a mais do que foi registrado em todos os 30 dias do mês de setembro no ano passado. O alerta é mais preocupante quando observado que o último mês de agosto foi o pior em queimadas na Amazônia em mais de dez anos.

Porém, por trás dos números e recordes, existe toda uma realidade que é afetada pelo fogo. Quando a maior biodiversidade do planeta queima, o que está em jogo não é apenas a vegetação, mas todo um ciclo de vida que é impactado pelo bioma. Isso inclui a fauna amazônica, os povos da floresta e também a vida de todos os brasileiros, com desdobramento para o resto do mundo.

Por isso, é necessário compreender a dimensão desse bioma e a sua importância. Confira abaixo quatro fatos para entender as queimadas na Amazônia além dos números.

O fogo que desregula o clima

A Amazônia é cheia de superlativos, e um deles diz respeito aos recursos hídricos. O bioma abriga a maior bacia hidrográfica do planeta Terra e, por meio da transpiração das árvores, cria ciclos responsáveis por regular o clima do Brasil e até fora dele.

Essa regulação climática acontece pelos “rios voadores”, termo usado para descrever a formação de imensos volumes de vapor de água que são carregados por ventos e nuvens. As correntes de ar e água se formam a partir da umidade da bacia amazônica e da transpiração de árvores da floresta. Essas massas de umidade são transportadas pelos ventos e parte dela vai caindo como chuva rumo ao sul do país, regulando o clima a partir da água.

No entanto, a devastação das áreas naturais de floresta em razão das queimadas e desmatamento faz com que esse ciclo hidrográfico essencial seja afetado. Um estudo liderado pelo Instituto Técnico do Vale (ITV) analisou o ciclo hídrico no sudeste do Pará entre os anos de 1973 e 2016 e constatou que, conforme a deflorestação crescia, a transferência de água da atmosfera caía, impedindo a formação dos rios voadores.

Em 2020, muitos brasileiros viram na prática como as queimadas afetam esse ciclo. Em agosto daquele ano, o céu de São Paulo ficou encoberto por nuvens que, na verdade, eram fuligem. Outras cidades do Sul e Sudeste também foram tomadas pelo fenômeno, num evento que, segundo especialistas, se originou a partir das queimadas na região amazônica. Como consequência, além de água, os rios voadores carregaram também a fuligem da devastação das queimadas na floresta.

Pureza do ar e a saúde em risco

O ciclo hidrográfico da Amazônia não apenas tem a ver com regulação climática, como também exerce um papel importante na renovação do ar. A transpiração vinda das centenas de bilhões de árvores que compõem a floresta garante ar puro à região. Isto porque as árvores estão constantemente reciclando o ar e o recarregando com umidade. Com o crescimento das queimadas, essa capacidade de filtro fica reduzida, sem contar os danos à saúde local que a fumaça pode causar.  

Em 2019, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) realizou um estudo para avaliar o impacto que as queimadas daquele ano tiveram sobre a saúde dos amazônidas, como são denominadas as pessoas que vivem na região. As conclusões mostraram que a fumaça resultante dos focos de calor teve consequências negativas à saúde pública da região. Segundo o instituto, 2.195 internações devido a doenças respiratórias podem ser atribuídas diretamente às queimadas. Desse total, 21% foram de bebês e mais de mil (49%) delas foram de pessoas idosas. O estudo também descobriu que, ao todo, os pacientes passaram 6.698 dias no hospital em razão da exposição ao ar decorrente das queimadas.

O Ipam também avaliou a poluição do ar na Amazônia durante agosto, um dos meses em que, tradicionalmente, os focos de calor são mais numerosos. O levantamento revelou que 90 cidades da Amazônia Legal estavam com nível de poluição até cinco vezes maior do que o máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao todo, cerca de 3 milhões de pessoas que residem nesses municípios estavam respirando um ar nocivamente impuro. 

Fauna e flora que ardem

Os impactos das queimadas não se restringem à qualidade de vida humana na região, e se estendem à fauna amazônica, composta por cerca de 30 milhões de animais. Os incêndios do bioma colocam em risco essa imensa diversidade animal, sem contar os que não foram catalogados ou descobertos.

A publicação científica Nature publicou um estudo em setembro de 2021 no qual cientistas descobriram que, entre 2001 e 2019, cerca de 95% de todas as espécies que existem no bioma foram afetadas pelas queimadas. De acordo com o trabalho, a destruição alcançou algo entre 100 mil e 190 mil quilômetros quadrados da Amazônia durante o período. Já em relação às espécies ameaçadas de extinção, os focos de calor afetaram 85% de todas as plantas e animais que correm o risco de desaparecer.

Uma barreira para as queimadas na Amazônia

Diante de tantas notícias negativas sobre deflorestação, é importante lembrar também as iniciativas que já estão dando certo para conservar a Amazônia. Uma delas são as Unidades de Conservação (UCs), que funcionam como uma barreira de proteção contra o desmatamento e as queimadas, contribuindo diretamente para a manutenção de recursos hídricos e do bioma, mantendo o equilíbrio do clima ao mesmo tempo em que geram renda para milhares de pessoas.

Os resultados positivos dessas iniciativas já podem ser observados na prática. Dados de 2021 sobre queimadas no estado do Amazonas mostram que, nas 16 UCs onde a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) atua, houve uma redução de 75% nos focos de calor em comparação a 2020. A redução foi maior do que a média registrada no estado do Amazonas, de 45% no mesmo período.

As UCs onde são desenvolvidas as atividades da FAS abrigam comunidades onde vivem mais de 39 mil pessoas, que se sustentam por meio da produção de açaí, castanha, banana, cacau e farinha, entre outros itens. O turismo também é outra atividade importante para a economia dessas regiões, e já rendeu R$ 161 milhões nas UCs estaduais da Amazônia.

Proteger a Amazônia é um dever de todos! Faça parte da campanha Eu Cuido da Amazônia.

Foto de  (via Estadão)


Equipe FAS