Papa Francisco: um chamado para uma nova economia - Blog Virgilio Viana

Papa Francisco: um chamado para uma nova economia

Papa Francisco: um chamado para uma nova economia
22 de abril de 2025 FAS AMAZÔNIA

A morte do Papa Francisco foi muito impactante mim. Estava em Roma quando, ao acessar a internet pela manhã, me deparei com a notícia do falecimento de Francisco. No dia anterior, Domingo de Páscoa, ele ainda estava lá — diante de mais de 30 mil fiéis, celebrando a missa em frente à Basílica de São Pedro. Mesmo debilitado e quase sem voz, concedeu sua bênção e despediu-se em silêncio. A notícia de sua morte me comoveu profundamente. Tive, nos últimos anos, a oportunidade de encontrá-lo pessoalmente em diversas ocasiões, durante eventos da Pontifícia Academia de Ciências Sociais. Em muitos desses encontros, levei mensagens da Amazônia e conversamos sobre a região — por quem ele nutria um carinho evidente e especial 

É difícil resumir o legado do Papa Francisco para a humanidade. Ao todo o Papa publicou três encíclicas e seis exortações apostólicas. Seus ensinamentos podem ser agrupados em cinco grandes temas: (i) ecologia integral, (ii) dignidade humana e justiça social, (iii) fraternidade e cultura do encontro, (iv) igreja em saída e misericórdia, (v) conversão e esperança. Exploro aqui aspectos do seu pensamento sobre uma nova economia. 

Os pronunciamentos e documentos do Papa Francisco têm influenciado fortemente o debate global sobre justiça econômica, sustentabilidade e dignidade humana. Sua crítica ao atual sistema econômico e o apelo por uma ‘Economia de Francisco’ apontam para um modelo que coloca a vida, os pobres e o planeta no centro das decisões. 

Francisco critica o modelo econômico atual baseado no neoliberalismo desregulado como sendo uma estrutura que exclui, degrada e mata. Em documentos como Evangelii Gaudium, Laudato Si’ e Fratelli Tutti, ele aponta que o crescimento econômico sem equidade leva à marginalização social e à destruição ambiental. Para ele, uma economia que mata pessoas, culturas e o planeta é inaceitável. 

Em 2019, o Papa convocou economistas e empreendedores para criar a ‘Economia de Francisco’, uma iniciativa global com foco na reconstrução de um sistema econômico mais justo, inclusivo e sustentável. A proposta valoriza a ética, a solidariedade, o cuidado com a criação e a participação comunitária. 

Os princípios para a nova economia defendida pelo Papa incluem seis eixos: (i) centralidade da pessoa, (ii) cuidado com a criação, (iii) justiça distributiva, (iv) trabalho digno, (v) solidariedade intergeracional e (vi) participação local. Trocando em miúdos, a economia deve servir ao ser humano, e não o contrário. A produção e o consumo devem respeitar os limites ecológicos do planeta. É necessário combater a desigualdade e garantir acesso justo aos recursos. O trabalho é um direito humano fundamental e fonte de dignidade. Devemos preservar os recursos para as futuras gerações. As decisões econômicas devem incluir os mais pobres e os povos tradicionais. 

A visão econômica de Francisco inspira ações concretas como o fortalecimento da economia circular, das finanças éticas, da agricultura sustentável, do empreendedorismo social, do manejo sustentável de ecossistemas naturais e da inclusão produtiva. Essas práticas ajudam a construir um modelo que respeita tanto a dignidade humana quanto os limites ecológicos. 

Os ensinamentos de Papa Francisco oferecem uma base ética e espiritual para a construção de uma nova economia. Ao unir justiça social, cuidado ambiental e protagonismo dos excluídos, sua proposta representa um caminho viável e urgente para responder às crises do nosso tempo, especialmente as mudanças climáticas. 

É nossa responsabilidade revisitar os ensinamentos de Francisco e promover um esforço coletivo global por uma nova economia. Precisamos de coragem para enfrentar os grandes interesses ligados à indústria de combustíveis fósseis que financia o negacionismo das mudanças climáticas e somar forças em torno de uma agenda baseada na ciência, na ecologia integral e na justiça social. Só assim estaremos, de fato, honrando aquele que se tornou o maior líder da humanidade neste século. 

 

Publicado originalmente no site InfoMoney, em 21/04/2025

 

Créditos de imagem: Vatican Media