A nova administração de Joe Biden nos Estados Unidos tem feito um apelo para mobilizar 20 bilhões de dólares para apoiar países na Amazônia a reduzir o desmatamento. Este é um compromisso muito positivo e merece aplausos de todos. O desafio, porém, é como construir uma abordagem colaborativa que leve em conta uma abordagem estratégica, além de simplesmente focar no desmatamento. A Amazônia é uma região de importância estratégica para o futuro do planeta. Se o desmatamento da Amazônia continuar aumentando, a luta para conter as mudanças climáticas será ainda mais difícil – senão impossível.
A Amazônia é mais do que uma miríade de ecossistemas que abrigam a maior diversidade de plantas e animais do planeta. É mais do que uma usina de serviços ecossistêmicos que bombeiam água para a atmosfera, afetando o ciclo global da água e capturando calor e “sequestrando” gases de efeito estufa, afetando o clima global. A Amazônia também é o lar de 47 milhões de pessoas, das quais 29 estão no Brasil e o restante nos outros 8 países amazônicos.
A melhor estratégia para começar um novo programa de colaboração internacional para o futuro da Amazônia é começar com um enfoque humano. Tal abordagem superaria todas as barreiras relativas à soberania, questões políticas e ideológicas. Uma abordagem humanitária teria como foco a doação de vacinas para todos os amazônicos, com prioridade para os povos indígenas e populações tradicionais. Tal esforço poderia envolver parcerias entre governos nacionais e subnacionais com organizações da sociedade civil que poderiam ajudar a logística em áreas remotas.
A tragédia de Manaus virou notícia em todo o mundo. Infelizmente, esta é apenas a ponta do iceberg. Os impactos da Covid-19 em áreas remotas são ainda mais dramáticos, embora menos visíveis. Os impactos das enchentes recordes em 2021 no oeste da Amazônia tornaram a situação humanitária ainda mais dramática. Este é um caso claro de injustiça climática: aqueles que menos contribuíram para a mudança climática são os que mais sofrem com os devastadores eventos extremos relacionados ao clima.
Seguindo uma colaboração humanitária em larga escala na vacinação, a cooperação internacional deve se concentrar em uma agenda de prosperidade para a Amazônia a fim de cumprir as metas de desenvolvimento sustentável da ONU para 2030. Como parte dessa abordagem sistêmica, o desmatamento não seria tratado como uma agenda isolada, mas, sim, como um desafio interligado para mudar o atual caminho de desenvolvimento em direção a uma economia verde, com mais justiça, equidade e melhor governança.
Essa abordagem traria amplo apoio em linhas políticas e partidárias. No Brasil, essa iniciativa é apoiada pelo Consórcio de Governadores da Amazônia. A iniciativa da vacina na Amazônia pode ser replicada por meio de um programa global que abrangeria outras áreas de floresta tropical na África e na Ásia. Esse programa global poderia incluir outros países que estão avançando rapidamente com vacinas, como o Reino Unido e a filantropia privada.
Há uma janela de oportunidade com a nova promessa do governo Biden. No entanto, o tempo está passando e a Amazônia está se movendo rapidamente para um desastre ecológico – o chamado “tipping point”. A menos que projetemos uma estratégia inteligente, corremos o risco de ficar presos na lama das divisões ideológicas e políticas, assim como os caminhões agora estão presos em estradas de terra na Amazônia. Espero sinceramente que os líderes mundiais – não apenas nos Estados Unidos – ouçam quem vive a realidade de frente, enfrentando os desafios diários da promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia.