Estávamos de férias em Minas Gerais, quando estourou a segunda onda em Manaus. Diante da superlotação dos hospitais e colapso do sistema de saúde, fomos aconselhados por amigos e parentes a adiar nosso retorno a Manaus, inicialmente previsto para o final de janeiro.
Chamei essa impossibilidade de retornar para nossa casa de “exílio viral”. Como em outros tipos de exílio, ficamos vivendo longe de casa, com apenas alguns pertences. No nosso caso, nossa bagagem cabia em uma mala e uma bagagem de mão por pessoa. Vivemos com isso por quase três meses.
Nosso exílio viral teve dois lados: um bom e outro ruim. Do lado bom, registramos o acolhimento carinhoso nas casas de amigos e parentes com quem ficamos nesse período. Do lado negativo, sentimos falta de estar em casa, com nossas coisas pessoais e algo muito especial: o nosso lar!
Como foi um exílio não planejado, não havíamos feito malas para viver 3 meses… Foi um grande aprendizado. Inspirados pelo Papa Francisco, amadureceu a consciência de que não precisamos de muita coisa para ser feliz. Mais vale a relação de amizade, amor e carinho do que os bens materiais.
Foi possível imaginar, ainda que de forma muito remota, como deve ser dura a vida daqueles que emigram, especialmente os que fazem isso em situação de penúria… Por aqui, no Amazonas, temos venezuelanos, haitianos e tantos outros… Pelo mundo, são mais de 80 milhões refugiados, em diferentes condições de sofrimento… Infelizmente esse número está aumentando ano a ano e tende a crescer ainda mais com os impactos das mudanças climáticas globais.
Para contrabalançar todo o sofrimento associado à Covid-19, que inclui doenças e falecimento de pessoas queridas, fica uma lição positiva. O que mais vale na vida são as relações humanas. Talvez o vírus tenha nos ensinado o quanto nossas vidas são vulneráveis e frágeis… Por isso, vale reforçar os laços de amizade e amor com quem nos relacionamos. Isso pode ser um legado positivo de uma pandemia que tem manchado de sangue a história do planeta e do Brasil em particular.