Frequente alvo de ataques vindos de parcela da sociedade e até de governos, as Organizações Não Governamentais (ONGs) alcançaram níveis recordes de confiança na pesquisa “Barômetro Edelman”, a mais importante pesquisa global sobre confiança, que teve sua 22ª edição divulgada no dia 30 de março, a partir de consulta a 26 mil pessoas em 28 países.
No Brasil, as ONGs foram consideradas como as instituições mais capazes de coordenar esforços interinstitucionais para solucionar problemas da sociedade por 65% dos entrevistados, à frente de empresas (61%), mídia (52%) e especialmente de governos, que recebeu apenas 35%. Também foram consideradas mais éticas para promover mudanças positivas na sociedade, por terem uma visão de futuro com a qual as pessoas se identificam mais, recebendo um total de 29 pontos, enquanto empresas, mídias e governo receberam 23 pontos.
Esses resultados revelam um quadro surpreendente, que pode ser atribuído, em parte, à percepção de 78% das pessoas, convencidas de que as autoridades governamentais estão mentindo – um aumento de 11% em relação ao ano anterior. Além disso, 81% das pessoas se mostraram preocupadas com fake news. Os ataques sem fundamentos contra ONGs parecem estar dando um resultado oposto ao desejado pelos detratores.
O bombardeio de fake news contra as ONGs motivou muitas instituições a aumentar seus esforços de comunicação dos resultados. Essa maior visibilidade dos resultados alcançados, somada a uma maior clareza de comunicação dos propósitos de cada instituição, promoveram uma mudança que pôde garantir esse salto na confiança da sociedade brasileira em relação às ONGs. Soma-se a isso o surgimento de novas iniciativas de premiações que começaram a dar mais visibilidade às ONGs, e avaliar seu comprometimento, como o prêmio Melhores ONGs do Brasil, vencido pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) em 2021.
É fato que um dos grandes desafios do Brasil é fazer um projeto de país capaz de superar a gigantesca crise social, econômica, política e institucional. Não se trata de tarefa fácil, infelizmente. O desafio é ainda maior diante da atual dificuldade de diálogo sobre temas complexos e controversos. A pesquisa revelou que 76% acreditam que as pessoas não sejam capazes de estabelecer debates construtivos e civilizados a respeito de temas sobre os quais discordam. Nesse contexto, as ONGs possuem um papel extremamente relevante. A pesquisa revelou que são essas instituições as que possuem a maior capacidade unificadora na sociedade, com 21% dos entrevistados, ante 14% de mídia e governos.
Esse quadro reforça a importância de valorizarmos cada vez mais o papel das ONGs como promotoras do diálogo e a construção de convergências para a solução dos descaminhos do Brasil, de forma apartidária, com consistência técnica e viabilidade prática.
Além de possuírem maior capacidade agregadora do que os demais segmentos da sociedade, as ONGs têm mais paixão transformadora, mais criatividade e menos burocracia do que outros tipos de instituições. Essas instituições trabalham por uma ou mais causas e lutam por propósitos elevados, de grande relevância para o país. Isso cria uma atitude diferente nas suas equipes de colaboradores e os ecossistemas institucionais aonde atuam. Esse perfil institucional tem atraído cada vez mais talentos e observamos um crescente número de profissionais buscando oportunidades de trabalho em ONGs, especialmente os mais jovens. Por tudo isso, as ONGs podem ser vistas como laboratórios de inovação com enorme potencial de contribuir para resolver os problemas do Brasil.
O aumento da confiança nas ONGs é uma tendência global: houve um aumento em 60% dos países pesquisados. É muito positivo que no último ano tenha ocorrido um aumento de 4% na confiança em ONGs no Brasil. Diante dos enormes desafios que o Brasil enfrenta, as ONGs são essenciais para encontrarmos soluções viáveis e transformá-las em fazimentos. As empresas representam o segundo segmento em que a sociedade brasileira mais confia. É essencial ampliar as parcerias entre as empresas e as ONGs. A mídia e os governos, que possuem os piores índices de confiança da sociedade brasileira deveriam valorizar e apoiar o trabalho desenvolvido pelas ONGs. Isso permitiria não apenas melhorar os seus índices de confiança, mas também aumentar a eficácia de suas atividades, aproveitando as inovações e os elevados padrões de ética das ONGs brasileiras.
Artigo publicado originalmente no Projeto #Colabora, em 01/04/2022