A ideia de criar a FAS – Fundação Amazônia Sustentável – surgiu em 2007. A COP12 (Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas de 2006,em Nairóbi, Quênia, havia consolidado um posicionamento do Estado do Amazonas como um ator relevante e com protagonismo global. Como líder da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, tive o privilégio de contar com o forte apoio do então governador Eduardo Braga – político com visão cosmopolita, espírito arrojado e grande gestor.
Já em 2006 havíamos criado no Amazonas mais áreas protegidas do que todo o Brasil, incluindo o Governo Federal, desde 2003: 12 milhões de hectares. Até 2007 tínhamos reduzido o desmatamento de 1.558 km2 para 788 km2 ao ano. O lema do governo era: temos orgulho de ser amazonenses – o estado que mais protege a Amazônia. Conquistamos apoio político para a continuidade da Zona Franca de Manaus, que foi definitivamente vinculada à conservação da floresta. Reabrimos o crédito do Governo do Amazonas junto ao Banco Mundial e o BID. Idealizamos o conceito que alicerçou a Zona Franca Verde: a floresta vale mais em pé do que derrubada. Assistimos, com satisfação, esse conceito ganhar aceitação geral, incluindo do Governo Federal, outros estados e de formadores de opinião de todo o Brasil. Idealizamos a primeira lei estadual de mudanças climáticas do Brasil, promulgada em junho de 2007. Faltava um passo adicional: como institucionalizar o processo para resistir às inevitáveis mudanças político-partidárias do Amazonas?
Foi nesse contexto que a FAS foi inventada. Visitamos a Fundação Getúlio Vargas (FGV), recebidos pelo seu presidente, Mário Henrique Simonsen. Descobrimos que, sendo uma fundação de direito privado, havia sido criada com o apoio de vários governos estaduais, incluindo o do Amazonas, que fez uma doação monetária inicial, assinada pelo então governador Álvaro Maia. Eu tinha sido fundador do Fundo Brasileiro de Biodiversidade (Funbio), que tinha um ótimo modelo de governança. Juntamos os modelos da FGV com o Funbio, adicionamos uma pitada de vivência e conhecimento da Amazônia, e criamos a FAS. Foram inúmeras reuniões de trabalho com a PGE, MPE, consultores jurídicos e diversos representantes da sociedade civil. O desafio era estruturar uma instituição sem fins lucrativos, de interesse público, regida sob as regras do direito privado. A ideia era inventar algo novo, eficiente e eficaz no enfrentamento dos desafios para superar, como diria Darcy Ribeiro, os descaminhos do Brasil – e do Amazonas em particular.
Resolvidos os aspectos jurídicos, veio o desafio financeiro. O principal parceiro foi o Bradesco, que havia comprado o Banco do Estado do Amazonas em 2002 e tinha a gestão da folha de pagamentos do Governo. Como bênção de uma obra divina, quando apresentamos o conceito da FAS ao Bradesco, estava em gestação um novo posicionamento do Bradesco: o Banco do Planeta. Era uma visão de compromisso com a Amazônia, avançada para seu tempo. O projeto da FAS foi preponderante para concretizar a promessa da marca.
Muitos contribuíram para o sucesso dessa parceria, mas não há espaço para nominar tantos! Somos muito gratos a todos e todas. O fato é que conseguimos duas doações relevantes do Bradesco: uma para o Fundo FAS e outra para o custeio operacional da instituição por cinco anos. A FAS nasceu grande.
Nesse processo veio o convite do governador ao ex-ministro Luiz Furlan, com o apoio de Lírio Parisotto, num evento do LIDE na Argentina, para ser o presidente do Conselho de Administração da FAS. Coube a mim elucidar as dúvidas e convencê-lo a aceitar o desafio. Depois de muitas reuniões, ele topou e impôs duas condições: que eu viesse a ser o diretor executivo e que houvesse total independência político-partidária da FAS. Com essas condições aceitas, fizemos o lançamento da FAS numa sessão especial da Assembleia Legislativa do Amazonas em dezembro de 2007.
Nascida de direito em 8 de fevereiro de 2008, a FAS iniciou suas atividades em março. Recebemos a generosa acolhida da Fucapi, então presidida por Isa Assef, que nos cedeu espaço físico gratuito nos nossos primeiros meses. Logo em seguida, alugamos, e depois, compramos nossa sede própria, no bairro do Parque 10, no coração de Manaus. Primeiro adaptamos a antiga loja de móveis e depois ampliamos a estrutura com o apoio de Lírio Parisotto, vice-presidente e filantropo da FAS; com apoio adicional do Bradesco.
Pulando para 2021, passados 13 anos, a FAS acumula um histórico respeitável de fazimentos. Vale registrar as 25 auditorias independentes da PwC sem ressalvas; os prêmios como melhor organização da sociedade civil da região norte em 2017, 2018 e 2019, o prêmio Unesco de educação em 2019, o prêmio global Gulbenkian de 2015, além de outras oito premiações nacionais e internacionais. Nas áreas onde focamos nossa atuação, reduzimos o desmatamento em 53% entre 2008 e 2019 e aumentamos a renda em 202% entre 2009 e 2019. Com o nosso Programa de Desenvolvimento Sustentável, chegamos a 581 comunidades e aldeias. Com a Aliança Covid Amazonas, chegamos a 604 comunidades e aldeias da Amazônia profunda, além de bairros da periferia de Manaus. Em 2020, mudamos o nosso nome para Fundação Amazônia Sustentável, para refletir nossa crescente esfera de atuação na Pan-Amazônia.
Fomos reinventando a FAS ao longo do tempo. Mesmo nos momentos de crise superamos os desafios. Em 2019, quando o PIB cresceu apenas 1,1%, crescemos 1,8%; em 2020, em meio à pandemia, crescemos 3% apesar de a economia ter apresentado crescimento de -3,4% em setembro, considerando-se a série acumulada dos 4 últimos trimestres, cenário em que organizações da sociedade civil foram particularmente atingidas.
Os desafios permanecem e serão eternos nesse planeta tão combalido e maltratado por um processo de desenvolvimento equivocado. Felizmente temos a inspiração do Papa Francisco, que conclama todos a uma revolução guiada pela ecologia integral. Oxalá possamos dar nossa pequena e humilde contribuição a esse gigantesco desafio. Ao completarmos 13 anos de vida, não podemos deixar de registrar nossos agradecimentos aos 170 colaboradores da FAS, incluindo celetistas, estagiários e consultores; 20 membros voluntários do nosso Conselho de Administração, presidido por Benjamin Sicsú e Neliton Marques. Temos ainda o nosso Conselho Fiscal, presidido por Nelson Carvalho e Roberto Kassai, o Conselho Consultivo com 17 membros; além dos atuais 74 doadores e 187 parceiros programáticos, além de novos 34 parceiros exclusivos da Aliança Covid Amazonas . Esses são números de fevereiro de 2021, que devem ser acrescidos por muito mais, se considerarmos o período de desde 2008. A contribuição de todos foi fundamental para nossos fazimentos! Registro nossa gratidão eterna!
Reiteramos nossos compromissos de instituição 100% brasileira, totalmente comprometida com o interesse nacional e o futuro da Amazônia e do Brasil. Independente dos governos passageiros, com seus acertos e desacertos, seguimos firmes na nossa missão de perpetuar a Amazônia viva, com todos e para todos.