Anualmente ocorrem reuniões dos países que assinaram os compromissos da ONU sobre as mudanças climáticas. São as Conferências das Partes, mais conhecidas como COPs. Este ano ocorre no Marrocos, na cidade de Marrakech, no período de 7 a 18 de novembro.
Esta COP é a primeira depois do histórico Acordo de Paris, assinado no final de 2015 por 195 países e ratificado pelo Senado brasileiro em 11 de agosto de 2016. Este Acordo envolve compromissos individuais de cada país para alcançar a meta global de diminuir a gravíssima ameaça das mudanças climáticas globais.
A COP é dividida em duas partes. A primeira é a oficial, onde as delegações dos países negociam temas relacionados à regulamentação do Acordo de Paris, mecanismos de financiamento, cooperação internacional e outros temas relacionados. A outra parte é palco de eventos paralelos, organizados por governos, empresas, organizações da sociedade civil, instituições de pesquisa e organismos multilaterais. Costumo chamar isso de “Congresso mundial sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável”, posto que envolve milhares de eventos, com participantes de praticamente todos os países do mundo.
Desde 2005 venho acompanhando as COPs com interesse e de forma proativa, organizando e participando de diversos eventos. O Amazonas possui mais área de florestas tropicais do que qualquer país, ficando à frente da República Democrática do Congo ou Indonésia. As florestas tropicais têm um papel importante para as mudanças climáticas. Representam entre 12 e 20% das emissões globais de gases efeito estufa. A restauração florestal e o reflorestamento comercial podem ser importantes ferramentas para diminuir o aquecimento global. O Amazonas, portanto, pode e deve ter um protagonismo importante nas discussões das COPs.
Existem dois grandes temas em debate que merecem atenção para o Amazonas. O primeiro é o mecanismo de financiamento do Fundo Verde para o Clima, que tem a meta de fazer desembolsos anuais de 20 bilhões de dólares ao ano, a partir de 2020. O problema é que a gestão desses recursos, na fase inicial, tem sido ineficiente e lenta. Como melhorar a gestão do Fundo Verde? O outro tema são mecanismos voluntários de compensação de emissões. Depois do colapso do mercado de carbono após a COP de Copenhague, existem sinais de recuperação, em função de políticas subnacionais (Califórnia, por exemplo), acordos setoriais, como o da aviação, e compromissos de empresas e individuais para compensar suas próprias emissões.
Não esperamos um resultado revolucionário nesta COP: ainda que os dados científicos apontem para a necessidade de uma mudança profunda nos sistemas de produção e padrões de consumo. Este chamamento, aliás, é parte central da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, publicada em 2015. Por falar nisso, recomendo a todos a leitura deste histórico documento, independente de religião ou credo: um documento com sólido embasamento científico e de agradável leitura.
Esperamos trazer para o Amazonas novas parcerias, ampliando as que já temos. Nosso desafio é fazer valer a tese do velho professor Samuel Benchimol de que a Amazônia presta serviços ambientais ao mundo e deveria ser recompensada por isso. Não é tarefa fácil convencer o mundo disso, mas seguimos tentando e caminhando, passo a passo, nessa direção.
Artigo publicado originalmente no site da FAS, em 11/11/2016