No dia 20 de março, foi divulgado o mais novo Relatório Síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), durante sua 58ª sessão, que foi realizada na Suíça. Destaca-se nesse relatório um cenário cada vez mais preocupante relacionado às mudanças climáticas, e essa é uma tendência de todos os relatórios já lançados pelo IPCC.
A cada edição lançada, assistimos um aumento na urgência de ações de mitigação e de adaptação relacionadas às mudanças climáticas. A mensagem principal que posso destacar deste relatório síntese do IPCC é que estamos na prorrogação do segundo tempo, usando uma analogia do futebol. Cada vez mais, estamos com os dias mais curtos, do ponto de vista de oportunidades, para evitar cenários mais catastróficos.
E isso não é algo que cabe apenas aos governos ou cientistas. Na verdade, esse é um tema essencial, que deve ser internalizado, entendido e debatido por sociedades do mundo inteiro. É preciso destacar também que existe uma ética entre gerações e nós não podemos continuar cometendo o erro de não cuidar urgentemente de reduzir o desmatamento na Amazônia, as queimadas no Cerrado e no Pantanal, enfim, de não dar a devida atenção a todos os ecossistemas brasileiros, e de todo o mundo, e deixar um planeta caótico para nossas futuras gerações.
Hoje, se discute bastante o papel e a importância das soluções baseadas na natureza (em inglês, o que se chama de “nature-based solutions”). O relatório síntese do IPCC enfatiza essas soluções e aponta para oportunidades que o Brasil pode seguir para se transformar em uma grande potência que pode contribuir nas resoluções desses problemas globais. Nós temos um potencial enorme de reflorestar, recuperando as nascentes dos rios com florestas nativas e a cobertura florestal em encostas de morros, tudo isso fazendo com que nós tenhamos um país mais verde.
Precisamos não apenas estancar, parar e reduzir a zero o desmatamento, com a maior rapidez possível, mas também precisamos iniciar um processo de recuperação daquilo que foi degradado. É importante enfatizar que muitas iniciativas estão acontecendo, porém é necessário multiplicar essas ações cinquenta vezes mais, pois é essa a ordem de grandeza do que devemos fazer.
É hora de usar todo o conhecimento que o Brasil possui, suas tecnologias e profissionais capacitados e comprometidos com essas ações para darmos novos passos. Precisamos também fazer com que os recursos financeiros, que são muitas vezes usados para salvar bancos, sejam destinados para investir nas soluções e adaptações a essas mudanças climáticas. E esperamos que esses recursos sejam disponibilizados de forma rápida, eficaz e eficiente, porque é essa a mensagem principal: temos urgência e precisamos mobilizar recursos financeiros, engajar as sociedades para enfrentar esse desafio que a humanidade como um todo enfrenta, nesse momento, na história.